quinta-feira, 17 de março de 2022

As palavras, úteis ou fúteis?

 Existem momentos nos quais é necessário parar por alguns instantes para refletir sobre certos acontecimentos que afetam nosso dia a dia e, consequentemente, de uma forma ou de outra, nossa vida. Me refiro ao valor verdadeiro de tudo aquilo que, a cada momento recebemos como informação, através de palavras e mensagens enviados pelos médios de comunicação disponíveis.

Como ponto de partida, me permito retornar um pouco no tempo, até 16 de novembro de 2020, quando publiquei neste blog um texto onde foram tecidos alguns comentários sobre “O poder da palavra”. Traduzimos nossas ideias com os seguintes conceitos, que permanecem atuais:

 

A palavra, como elevada forma de expressar os pensamentos, tem a capacidade de tornar transparentes os sentimentos do ser humano e adotam a cor, o brilho e o sabor das emoções com as quais são proferidas.

Nos aparece encarnada na explosão da ira, celeste nas preces, rosa no canto maternal. Brilhante quando elogia, opaca-se numa calunia. Doce no afago, se azeda na crítica. Amorosa no abraço, sensual na expressão, libidinosa na resposta, assume o papel de mensageiro das emoções.

Possui afiadas bordas que provocam profundas feridas quando proferida de forma insensata, mas pode também, ser portadora do bálsamo delicado que cicatriza os cortes.

A palavra é arma e redenção, é ofensa e compreensão; é instrumento, objeto, recipiente e conteúdo. É poderosa. Marca, deixa rastros. O Ser encarna-se através da palavra, da mesma forma que o Poder e o Querer.

Sendo assim, tão valiosa e volúvel, todos os cuidados possíveis devem ser tomados antes de usá-la. Vale muito mais uma palavra silenciada na esperança de uma reconciliação, que uma torrente verbal avassaladora despejada com ódio no calor de uma disputa. (Pisandelli, 2020) [1]

 As palavras podem estar impregnadas de valor, de significado e relevância. Podem ser comparadas a um vetor de impulso que através de sua ação, proporciona oportunidades de melhoria e crescimento nas relações interpessoais. São aquelas palavras que transportam, no seu seio, energias positivas, boas intenções e sobre tudo um verdadeiro e sincero desejo de crescimento social. São palavras úteis, que acrescentam e constroem. Não há energia negativa, desejo de vingança ou crítica azeda.

Em contrapartida, existem àquelas palavras, que impregnadas de uma seiva amarga e corrosiva queimam, ferem nossos espíritos. Voam como setas agressivas, lançadas para lacerar sem importar as consequências dos seus efeitos. Somente projetam raiva, ressentimento e despeito. São palavras fúteis, que nada constroem nem acrescentam. São ocas, sem importância relevante nem utilidade. Caracterizadas por uma sensação de mágoa, são geradoras de desprazer, de rancor ou de angústia sentida por àqueles que são alvos escolhidos.

Pequena é a diferença entre as expressões úteis e fúteis, mais enorme enquanto ao seu significado. É neste ponto que desejamos chamar para reflexão nosso leitor.

A crítica, quando construtiva e bem intencionada, sempre será útil, bem vinda. As palavras corrigem sem ferir, ajustam sem ofender, sugerem sem lacerar. Uma opinião será sempre bem recebida quando seu objetivo esteja pleno de boas intenções.

Sendo ela destrutiva, agressiva ou debochada, será sempre fútil, irrelevante, sem importância nem utilidade. Estará desprovida de essência, será tola e desnecessária.

Abençoados são todos os médios de comunicação, que encurtam distâncias, que nos permitem estar a par, quase instantaneamente, de tudo àquilo que de bom ou de ruim acontece em nosso mundo. Não tenho nada a criticar sobre o progresso da comunicação. Minha angustia se centra naquelas mensagens fúteis, escritas por pessoas que não se aprofundam nos assuntos, que não param para pensar sobre àquilo que expressam, nem muito menos nos efeitos que suas palavras podem provocar.

Sugiro meditar sobre este assunto e sua importância. A “Caixa de Pandora” foi aberta, e assim permanece há muitos e muitos anos, espalhando todas suas mazelas na humanidade. Porém, e a pesar de tudo, ainda resta a Esperança, solidamente fincada no interior de nossos corações.

Vamos meditar um instante antes de escrever ou enviar qualquer mensagem, informação ou notícia. Vamos tratar de que sejam sempre úteis e jamais fúteis.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Paternidade responsável e consumismo

 

Em fevereiro de 1999, escrevi um artigo para a revista “O CENECISTA”[1] a convite do então Superintendente da CNEC – CE, Prof. José Lúcio Ferreira de Melo. Transcrevo o mesmo hoje, 08 de março de 2022, ou seja, depois de transcorridos 23 anos, daquela data. A sua releitura me proporciona a oportunidade de refletir sobre o tema em epígrafe: “Paternidade responsável e consumismo”. Vamos, sem mais delongas ao referido texto:

         “O Brasil enfrenta mais uma das, até agora, infinitas crises econômicas e de credibilidade das suas instituições e lideranças. A estrutura financeira do sistema encontra-se abalada e sua instabilidade reflete-se no seio da população, castigando, preferencialmente, camadas cujas rendas são menores. A situação está tomando uma tal gravidade que até as chamadas classes favorecidas sentem, na própria carne, a dor de perder sua liberdade de consumir.

         Esse descalabro atinge, e não poderia ser de forma diferente, os setores produtivos, comercial e de serviços. Dentro destes últimos anos, não podemos deixar de destacar os estabelecimentos educacionais. As escolas estão sendo penalizadas de forma criminosa, retirando-se delas sua capacidade operacional, através do aumento contínuo de suas despesas sem poderem repassar esses custos para o lado das receitas.

         Hoje, está sendo colocado em xeque o futuro do Brasil, comprometendo a qualidade de ensino das crianças que serão nossos líderes amanhã.

         Essas crianças são nossos filhos, não os filhos dos outros. A responsabilidade pela formação dos futuros homens e mulheres é nossa, portanto devemos refletir sobre qual deve ser nossa postura como pais, frente a essa contingência.

         A escola de nossos filhos deve ser a melhor e mais completa possível. Deve ser aquela que tenha uma proposta pedagógica dirigida à formação do ser humano completo. Não simplesmente dirigida a preparar uma dúzia de alunos para serem campeões do vestibular. Nossa cobrança deve ser neste sentido, pois a oportunidade de formar nossas crianças somente tem caminho de ida. E quando passa, jamais se repetirá.

         Nós temos essa escola bem a nossa frente. Nossos filhos são seus alunos. E somos os responsáveis pela sua continuidade. É nossa obrigação moral lutar pela sua sobrevivência. E para isso devemos assumir o compromisso pela sua manutenção como modelo de excelência no ensino. Qualquer sacrifício vale a pena, pois é o futuro de nossos filhos que está em jogo.

         Devemos refletir profundamente sobre este assunto, principalmente na hora crítica em que comprometemos nossa renda em gastos que podem ser evitados. A escola é um investimento com o melhor retorno possível. O consumo é um veneno que nos mata lentamente tirando de nós toda a capacidade de honrar a paternidade responsável.

         Cada vez que utilizamos os cartões de créditos, cheques pré-datados, os crediários ou, até mesmo, o dinheiro vivo, devemos nos fazer estas perguntas: Já fiz o investimento mensal nos meus filhos? Meu compromisso com sua formação foi cumprido?

         Se a resposta for “ainda não”, devemos parar e pensar. Os impulsos de consumo devem ser refreados e nosso talão de cheques deve ser guardado. Devemos dar um basta à falsa ilusão de poder que a publicidade lapida em nossas mentes. Força e poder são decorrentes do orgulho que devemos sentir como pais responsáveis.

         A escola é a forja onde se modela o caráter de nossos filhos. Para que o resultado seja o desejado, devemos mantê-la acessa.

         E somos nós que alimentamos sua fornalha com carvão.

      Claramente, o mundo dá múltiplas cambalhotas, mudanças se sucedem em ritmo vertiginoso, não mais há “vestibular” e “cheque pré-datado”, mas há ENEM, PIX, TED, DOC e uma torrente de meios de estudo e pagamentos novos e ingeniosos. Muitos dos filhos de 23 anos atrás, são hoje pais corujas que levam diariamente seus pequenos às escolas modernas. Somente há uma coisa que permanece imutável no tempo: A paternidade responsável e o consumismo. Um consumismo exacerbado pelo modo atual de vida, pela facilidade de pagamento, pelas ofertas imperdíveis, pelos milagrosos produtos importados ou nacionais que nos oferecem facilidades e benesses incríveis. Tudo ao alcance da mão, no celular, no pagamento instantâneo, na entrega à domicílio. É necessário sobrepor a paternidade responsável ao consumismo, e lapidar em nossos filhos essa consciência, para que no futuro, sejam eles os novos pais responsáveis que possibilitem, com seus atos, a permanência do ser humano consciente de sua missão irrenunciável na vida.

        Vinte e três anos se passaram desde essa publicação. Meus filhos, alunos das séries iniciais, na época são hoje profissionais de sucesso dos quais muito me orgulho. Tenho certeza de que muitos erros foram cometidos nesse tempo. Errar faz parte da vida. Porém uma coisa que jamais pode ser negligenciada é a paternidade responsável. O preço a pagar pela omissão, certamente será caro demais.

    

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.  



[1] Revista “O CENECISTA”. Fevereiro de 1999. Pag. 22

sábado, 18 de dezembro de 2021

Onde está o lobo mau...?

 Nossos filhos serão sempre aquilo que o destino prover, mas é nossa obrigação cuidá-los e orientá-los, para que esse destino consiga se tornar uma realidade plena de alegrias e felicidade. O Autor

A sociedade contemporânea passa por mudanças contínuas, radicais e imprevistas, as quais se processam de tal forma aceleradas que frequentemente nos resulta praticamente impossível acompanhá-las na sua totalidade, visto o ritmo frenético, quase torrencial com que aparecem. Uma imensa maioria, acontece, evolui e desaparece sem que sequer tomemos, ao menos, conhecimento de sua existência. As pessoas, seus negócios, interesses, desejos e relacionamentos se multiplicam, desdobram, modificam, fusionam e/ou adotam as formas mais diversas possíveis. Os mecanismos, regras, normas e canais de comunicação e interação social são mutantes, interligados, multiformes. Se apresentam em multiplataformas e obtém alcance planetário quase imediato. As fronteiras e limitações físicas são abolidas em nome do progresso, da globalização e da liberdade de expressão. Atitudes éticas e comportamentais tradicionais são contestadas e substituídas por novas sem terem previamente passado pelo recomendável crivo de um julgamento crítico. Muitas destas novas atitudes possuem regras normativas (quando as possuem) cujos valores nem sempre se fundamentam numa razão ou estruturação sólida e consistente que justifiquem a mudança. As vezes são simples mudanças de tons, das mesmas cores. Outras, no entanto são radicais, a ponto de estabelecer verdadeiras revoluções estruturais na arquitetura da sociedade. 

As cidades, hoje transformadas em megalópoles, gigantescos e massivos conglomerados urbanos, padecem com suas ruas saturadas de veículos, seus enormes centros comerciais e imensas torres de cimento, aço e cristal que crescem e se expandem a cada instante, em todos os sentidos possíveis. Sempre maior, mais largo, mais alto, mais profundo, procurando utopicamente um pseudo-isolamento físico alienado. Nesse espaço privativo e isolado se procura, curiosamente e de todas as formas possíveis, permanecer continuamente interligado com o resto do mundo.  As distâncias se encurtam de tal forma, que é possível tomar o café da manhã em Fortaleza, almoçar em Brasília e jantar em Buenos Aires, tudo num mesmo dia. Paradoxalmente, um verdadeiro caos relacional, estabelece suas próprias regras, e as pessoas mergulham a cada dia, de forma mais e mais profunda nele. Nada permanece imutável na vida dos seres humanos. Tudo é permanente até ser substituído. A relação familiar é descartável! O amor eterno de hoje se transforma em ódio amanhã. Mata-se um filho porque incomoda no relacionamento entre os pais. Adota-se um animal, e abandona-se uma criança no depósito de lixo.

Certamente haverá pessoas que, levantarão suas vocês de indignação ao ler estas palavras. Outras reconhecerão, que de uma forma ou de outra já participaram de situações similares. Muitas, sem dúvida, as rejeitarão, taxando-as de exageradas e mentirosas.

Embora relevantes e sempre respeitadas por mim, essas opiniões individuais e divergentes não passam disso, pois não há possibilidades de fugir da realidade. Uma realidade que está presente no dia-a-dia, e vivenciada por nós, e somos parte inseparável dela. Não obstante essas avassaladoras mudanças, existem múltiplos elementos ocultos que fazem parte dessa sociedade em permanente e dolorosa revolução, que continuam solidamente enraizados nas suas entranhas, nos alicerces de sua estrutura, desde o início dos tempos e que, embora alterando continuamente sua roupagem, jamais deixaram de estar presentes, comprovando com sua presença que a pesar das mudanças, muitas coisas continuam iguais.

Estamos nos referindo a uma praga universal que se encontra entre as maiores e mais dolorosas mazelas sociais: a pedofilia, o abuso sexual de crianças. Ela se espalha em silêncio, se ramifica, muda de forma, de cor e de tamanho. É contaminante e parasita suas vítimas, sugando delas o sorriso, a alegria de viver e deixando nelas cicatrizes indeléveis que as marcarão para sempre.

Não obstante, e a pesar da gravidade da situação, podemos considerar que nem tudo está perdido. Pandora, na sua angustiante constatação do erro cometido, ainda tentou fechar a ânfora divina, mas era tarde demais: tudo tinha vazado dela, com a exceção da "esperança", que permaneceu presa junto a sua borda. Essa esperança se encontra hoje alojada em nossos corações e assim deve permanecer sempre, viva neles. Esta é a única forma de assegurar que o homem não será derrotado pelo mal, sucumbindo às dores e aos sofrimentos da vida.

Este trabalho não é uma denúncia, nem uma receita para julgar o pedófilo nem um manifesto destinado a acabar com a pedofilia, mas uma forma de trazer à tona uma verdade, nem sempre evidente: a necessidade de exercer uma paternidade responsável, requisito essencial para a sobrevivência do ser humano. Sermos pais responsáveis envolve muito mais que procriação, alimentação e satisfação de desejos de consumo dos filhos. É a tarefa mais nobre e complexa que o ser humano deve enfrentar, embora nem sempre sejamos perfeitamente conscientes disso. Essa paternidade requer como obrigação, a necessidade de olhar para nossos filhos com amor, e sermos capazes de abdicar de tudo aquilo que seja banal em nome desse amor.

Nossos filhos serão sempre aquilo que o destino prover, mas é nossa obrigação cuidá-los e orientá-los, para que esse destino consiga se tornar uma realidade plena de alegrias e felicidade. Ensinar e educar são coisas diferentes. A escola pode assumir a responsabilidade de ensinar, más a educação é um encargo que corresponde exclusivamente ao grupo familiar. É uma tarefa indelegável, impossível de ser terceirizada. Essa educação inclui, no seu âmago o cuidado pela prevenção da integridade física e mental das crianças. Deixa-la de lado, significa abdicar da função paterna.

Esperamos que a leitura deste texto permita acender uma luz na úmbria caverna do caos, e permita nos orientarmos, para que, junto aos nossos filhos encontremos o melhor caminho em direção à saída.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Onde está o lobo mau (Parte II): Isso nunca acontecerá com nossos filhos!

 A fábula “Chapeuzinho Vermelho”, é certamente, por todos nós conhecida, não obstante isso, nem sempre valorizada na sua justa medida, nem reconhecidos os seus importantes ensinamentos. Encerra, nas suas palavras, uma mensagem por demais esclarecedora, a qual é dirigida não só às crianças que adoram ouvi-la, mas particularmente aos pais, que com frequência preocupante permitem que seus filhos se adentrem nas “florestas da vida”, confiantes em que nada virá a lhes acontecer.

Estas postagens (Parte I e II) não tem, nem nunca tiveram, a pretensão de serem um tratado sobre abuso de crianças ou pedofilia, nem poderiam sê-lo, considerando a extrema complexidade e amplitude do tema. Não obstante, foram escritas com uma adequada fundamentação teórica, embasamento que lhe confere a necessária garantia de verossimilitude em suas diversas e múltiplas afirmações.

Procuramos sempre levar, de forma objetiva até o leitor, uma visão esclarecedora e plausível de alguns dos perigos aos quais as crianças estão expostas cotidianamente nos diversos ambientes que frequentam, com ou sem o aval paterno. Estes ambientes, os mais diversos possíveis, possuem quase sempre brechas, fendas ou canais inesperados que permitem a entrada sub-reptícia de elementos mal intencionados os quais, agindo de forma similar aos predadores implacáveis da floresta, ficarão à espreita de suas presas, em silêncio, o tempo que for necessário, até que, de forma inesperada, estas cairão nas suas garras, sem perdão, inexoravelmente.

As vítimas potenciais, são pequenos e inocentes seres desprotegidos, que nem sempre possuem uma verdadeira noção do perigo que estão correndo. Curiosos, procuram continuamente por respostas a cada uma de suas intermináveis interrogações, respostas que às vezes, ao serem encontradas, geram novas dúvidas, em ciclos que se repetem ad infinitum.

Embora paralisados pelo medo, às vezes superam as barreiras, sedentos de serem partícipes de novas e excitantes experiências. Ser criança é aceitar desafios sem medir consequências. Angustiados, certamente, ao ter que enfrentar uma situação totalmente inesperada, porém permanentemente premidos pela necessidade de aprender e apreender, de tomar para si tudo o que se apresenta como novo, desconhecido, nem sempre desejado, mas pleno de mistério, que lhes é oferecido de mãos abertas, gentilmente, sem censura, sem reproches.

São deixados pelos pais, familiares ou responsáveis em aparente segurança, dentro dos mais elevados níveis de confiança possíveis, em espaços pretensamente blindados ao mal, com aquelas pessoas que, se espera, lhes fornecerão educação e conhecimento, cuidarão de sua saúde e higiene, os alimentarão e resguardarão na ausência dos seus maiores, fato por demais frequente nestes dias atribulados e cheios de compromissos sociais, laborais e profissionais.

Ficam em ambientes considerados fortemente protegidos, com grades, câmeras de vídeo, cercas elétricas, guardas munidos de médios de comunicação de última geração, convenientemente isolados por portas, travas e vidros blindados, pretensamente a salvo dos potenciais perigos que estão presentes no cotidiano de suas vidas, daqueles bandidos transvestidos de mocinhos, das drogas e maldades, das armas, enfim, dessa violência urbana cotidiana que inunda e sufoca cada vez mais nossa sociedade.

Condomínios, escolas, igrejas, clubes, acampamentos, casas de amigos tradicionais, de parentes muito próximos, clínicas de renome, consultórios, academias de arte ou dança, creches, quiçá o próprio quarto, a sala ou o banheiro do lar, naquele inviolável espaço familiar.

Estes são tão somente alguns dos lugares nos quais se deposita essa confiança, deixando ou entregando as crianças, com alegria, sem medo, na certeza de que, logo mais estarão retornando aos nossos braços, sãs e salvas.

Mas, nem sempre isso é uma verdade insofismável. Da mesma forma em que, dentro desses ambientes seguros, as rosas podem nos mostrar toda sua beleza e esplendor, a semente do mal pode ter sido plantada e estar germinando em silêncio. O predador pode encontra-se já oculto na penumbra, em silêncio, acaçapado, afiando suas garras, pronto para dar o bote.

Qual lobo transvestido de avó pode encantar com sua candura, tal qual onírico príncipe que seduz, com o brilho dos seus olhos e a permanente alegria do seu sorriso. A pergunta surge naturalmente: Onde está o lobo mau...?

As armadilhas podem estar prontas, aguardando a oportunidade, montadas na úmbria solidão dos corredores, nos quartos de estudo e nas salas de aula, nos vestiários, parques, bibliotecas e salas de jogos, nos banheiros e dormitórios. Na solidão dos auditórios fechados, nos cinemas e nos templos consagrados. Nas garagens, estacionamentos e guaritas. Nos consultórios, onde se procura a seriedade e integridade do profissional de saúde. Na sala de música e canto, no atelier do mestre pintor...

Sempre que houver uma oportunidade para o mal ser praticado, haverá uma ocasião para praticá-lo e alguém pronto e disposto a tirar proveito disso. Não existe impossível para quem deseja satisfazer seus desejos perversos. Não há barreiras, grades, portas ou muros, luzes ou sombras capazes de impedir a ação de um ser mal-intencionado. O tempo e o silêncio estarão sempre de seu lado.

Muitos de nossos leitores, certamente comentarão para si: tudo isto é balela, papo furado, exagero doentio. Não existe em hipótese nenhuma, este mundo horrível dentro do meu universo pessoal. Meus amigos e colegas são da mais alta confiança. O colégio dos meus filhos é tradicionalmente o melhor e mais qualificado estabelecimento educacional da cidade, seus professores e a diretoria, são irrepreensíveis. Nunca houve um caso sequer de moléstia a uma criança.

Os templos, de cujas cerimônias religiosas participamos nós e todos nossos amigos e familiares, estão a cargo de pessoas maravilhosas, amorosas, cheias de bondade e que cuidam abnegadamente dos pobres, dos anciões e dos menores em situação de risco, que tanto existem nas ruas. Basta participar dos ritos e encontros, conversar com as pessoas, para perceber que esse amor e essa bondade estão presentes em cada ato.

Os consultórios médicos nos quais nossos familiares são tratados pertencem aos mais renomados profissionais de saúde, ou se encontram nas melhores clínicas e hospitais da cidade.

Ninguém, na nossa primorosa família, jamais seria capaz de cometer o menor ato reprochável com qualquer criança que seja, e muito menos com algum dos nossos filhos. Eles são adorados e cobertos de carinho por tios, avós e primos.

Nossos amigos compartilham com suas famílias os melhores e mais felizes momentos de suas vidas conosco, e são todos da mais elevada qualidade humana. É absurdo pensar uma coisa assim. Isso nunca acontecerá com nossos filhos!

Outros, no entanto, ficarão apreensivos e desconfiados. Alguns quiçá, podem até lembrar-se de algum caso acontecido faz certo tempo com vizinhos ou conhecidos, enfim, com os outros.

Finalmente, haverá aqueles, que lendo alguns parágrafos deste texto, permanecerão em silêncio, sentindo um aperto na garganta ao lembrar-se da dor sentida, no corpo e na alma. Estes podem até não mais serem capazes de chorar, pois suas lágrimas estarão represadas pelo terror, nos mais recônditos e obscuros espaços selados da memória.

Não é feito pelo autor, nenhum juízo de valor sobre qualquer opinião, seja ela favorável ou contrária ao conteúdo exposto aqui. Cada pessoa pode e deve ter livre arbítrio para pensar e agir como sua consciência assim o determinar.

Esperamos, no entanto, que ninguém feche os olhos, tampe os ouvidos nem silencie a voz, sem se deter um instante para meditar, e se fazer, em silêncio, uma única pergunta: será isso possível de acontecer? A possível vítima pode estar, neste momento olhando na sua direção, quiçá ao seu lado, sem poder expressar seus medos e angústias, sua dor, seu sofrimento.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

 

domingo, 25 de abril de 2021

Somente vive quem permanece vivo

 

O medo do desconhecido bloqueia nosso pensamento, nos paralisa, impedindo-nos de fazer escolhas que, frequentemente, podem representar a diferença entre o sucesso e o fracasso, isto é, simbolicamente falando, entre a vida e a morte.[1]

  Em nosso artigo, denominado “Via de porre e via de levare”  consideramos que “Todos nós, como seres humanos, desde a concepção até o último alento, passamos por um processo contínuo de adequação e mudanças, sejam elas orgânicas, psíquicas ou sociais. Vivemos numa permanente construção e aperfeiçoamento do ser, com um objetivo primordial: sobreviver o quanto e o melhor que for possível.”

Quando crianças, sonhamos com a adolescência. As alterações orgânicas mudam nossas atitudes e desejos. Passamos a renegar o passado: “Não sou mais criança...” é frase repetida mil vezes. A vontade de correr supera a força de nossas pernas. A curiosidade se transforma em desafios que nem sempre estamos dispostos a enfrentar. O desejo nos inflama. As múltiplas quedas, aparam as arestas. Nossos corpos e nossas mentes, são dolorosamente ajustados até se transformarem em poderosos e jovens adultos. Avançamos a cada dia, nos apaixonamos, casamos, temos filhos e nossos filhos, retomam os sonhos das crianças. A vida, não tem retornos. Somente é possível avançar.

De forma análoga a uma pintura de alta complexidade artística, o homem desenvolve sua estrutura bio-psico-social por via de porre através do agregado de sucessivas camadas de conhecimentos, experiências e relacionamentos que, a cada instante, são incorporadas como resultante do processo de aprendizado contínuo ao qual estamos permanentemente submetidos. Tintas e cores aplicados ao longo da vida por múltiplos e diferentes artistas: pais, mestres, parentes, amigos, esposos, filhos, netos, enfim, todos e cada um daqueles que em algum momento interagem ou se cruzam em nosso caminho. Essa obra fica, a cada dia, mais perto do seu acabamento final, que coincide com o momento de nossa despedida[2].

A vida é uma construção permanente, porém, para continuar vivos se faz necessário remover obstáculos que bloqueiam a passagem das estruturas que a suportam. É necessário arrancar, por via de levare, na força do martelo e do cinzel, aquelas camadas que nos sufocam e nos aprisionam dentro de um bloco rígido. Não podemos permitir que o medo nos paralise, que o amargo nos envenene ou que o silêncio nos afaste da alegria de viver. Por trás dessas camadas grosseiras, dos cabelos grisalhos ou da pele sem viso, poderemos descobrir a figura suave, brilhante e formosa que permanece escondida no bloco sólido de nossa alma. O ser humano se modela a cada instante, seja por via de porre ou por via de levare. Na suavidade do pincel que dá os tons multicoloridos a nosso ser, ou na força do cinzel e do martelo, arrancando de nós a rigidez da pedra que sufoca nossos sentimentos e nossa alma.

Sigmund Freud disse que o inconsciente é algo que fica escondido em cada um, mas que se manifesta sem sabermos nos comportamentos. Ao ter outras prioridades que não seja você, a mensagem que fica registrada é que você não é tão importante, que não tem tanto valor e que os outros são mais relevantes e dignos da sua atenção e você vira uma personagem secundária na própria vida.
E isso reforça a mensagem de não ser capaz nem do básico por si mesma, cultiva o não merecimento, a insegurança, o autoabandono que provoca um vazio interior, que gera uma ferida na qual nada é capaz de suprir, tendo isso repercutido em todas as áreas da vida.
A pessoa sofre, se envolve em relacionamentos ruins, adquire hábitos compulsivos como comprar muitas roupas sem necessidade por exemplo, em busca de refúgio.[3]

A todo instante e independentemente de nosso tempo de permanência, vulgarmente conhecido como “idade”, somos fortemente influenciados pelas fantasias, sem percebermos que por elas estamos sendo controlados. Inconformados pelos fios grisalhos de nossos cabelos, os pintamos de forma nem sempre harmoniosa, seguindo a “tendência atual e retomando o viso da juventude”, sem aceitar que os fios permanecem brancos na sua essência. Utilizamos cremes milagrosas a base de produtos instantaneamente rejuvenescedores para eliminar rugas na pele, sem perceber que que a pele permanece a mesma.  Adquirimos roupas multicoloridas, modernas e juvenis, fazemos cirurgias plásticas, implantamos bolsas de silicone, fazemos lipos e modelagens procurando um rejuvenescimento impossível. [...]Não aceitamos o passar do tempo. Não reconhecemos a vida como ela é.

Não nos aceitamos como realmente somos. Não sentimos orgulho de “ser”. Somos impelidos pelas nossas fantasias a “parecer”, a sermos eternamente jovens, bonitos, fortes e poderosos, superiores. [...] sou totalmente a favor de cuidar de nossa aparência, de nosso modo de vida, da alegria de viver. De ficar “bonitos” para nós e para àqueles que amamos. [...]As marcas do tempo, devem servir como sinais de maturidade, experiencia e sabedoria. Somos o que somos, jamais o que parecemos.

As fantasias devem, sim, ocupar um espaço em nossas vidas, pois alimentam os sonhos e estimulam nossas caminhadas. Podem compartilhar nosso mundo. São benvindas.

O que não podemos é viver no mundo da fantasia. Jamais devem nos dominar e controlar nossos pensamentos, sob o risco de sermos transformados em marionetes, sem vida própria. Devemos aceitar a beleza real, a que nos identifica, àquela que possuímos em nossos corações. Não devemos vestir uma roupa para parecer jovens, mas devemos vesti-la para mostrar que permanecemos jovens, alegres, e orgulhosos de sermos bonitos. É necessário viver a vida, da forma que ela realmente é. Não é a idade que nos torna amargos. São nossas escolhas erradas. Não podemos aceitar o papel de coadjuvantes de nossa própria vida. É necessário sermos permanentes protagonistas. Nossas atitudes devem ser proativas. Nossa prioridade deve estar centrada em nossa felicidade. Devemos viver, para continuar vivos.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

 



[1] https://spisandelli.blogspot.com/2020/11/medo-do-desconhecido.html

[2] http://spisandelli.blogspot.com/2020/11/via-di-porre-e-via-di-levare.html

[3] Ana Carolina Rodrigues. https://www.instagram.com/p/CNvqskdBFsT/

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Na sutil teia da dor

Uma teia é tecida lenta e cuidadosamente. Sem alarde. Sua resistência aumenta a cada fio agregado. Praticamente invisível, dificilmente poderá ser evitada pelas suas vítimas potenciais. É silenciosa, discreta e flexível. Não destrói nem devora. Não provoca feridas dilacerantes. Simplesmente prende, aprisiona.

Na sua transparência reside sua força. É muito difícil de ser notada. A percepção de sua existência, poderá ser o primeiro sinal de que já não há retorno, de que fomos capturados por ela.

Mas não é exclusivo de florestas ou telhados sombrios o ambiente propiciador das armadilhas caracterizadas pelas teias, tão sutis quanto poderosas. É na privacidade do lar, ambiente supostamente protegido e privativo da família, pretensamente iluminado e aquecido pela energia do amor que, com uma frequência muito maior que a imaginada, imensas, envolventes e poderosas teias emocionais são estendidas silenciosamente, com objetivo de capturar e sufocar sonhos, desejos e liberdades. São as teias do relacionamento abusivo.

Avaliamos como importante destacar algumas considerações que, em nosso entender, são essenciais para um melhor entendimento destes conceitos:

 1. Não há geração espontânea da teia.

As teias as quais nos referimos não têm geração espontânea nem surgem do acaso. São estendidas a partir de um primeiro fio ancorado num íntimo e perverso sentimento de dominação. Têm, na sua criação, objetivos e propósitos claramente definidos. Nascem pequenas, sutis, quase imperceptíveis. Se expandem lentamente, concêntricas, aumentando progressivamente sua capacidade de reter, imobilizar, asfixiar.

 2. Não possui exclusividade de gênero

Um relacionamento abusivo não possui características de dominância de gênero. Não é sinônimo de machismo ou feminismo. Embora exista uma predominância evidente de vítimas entre o sexo feminino, não devemos subestimar a situação oposta. Há sim, multiplicidade de situações nas quais, o homem é objeto de manipulação perversa pela sua companheira.

 3. Relacionamento abusivo é indiscutivelmente uma forma de violência doméstica

Embora não necessariamente um relacionamento abusivo termine em tapas ou agressões físicas de maior intensidade, caracteriza sim uma grave situação de violência na relação visto que seus efeitos, deixam marcas dolorosas e profundas nas pessoas, quebrando os sólidos alicerces nos quais deve ser fundado um convívio baseado no amor e no respeito mútuos.

Isto posto, devemos considerar que este tipo de relacionamento pode se estabelecer tanto entre pessoas inicialmente fortes, instruídas, resolvidas e de bem com a vida, quanto entre àquelas fragilizadas, menos afortunadas e carentes de suporte emocional e material adequado que lhes permita levar uma vida, pelo menos digna e socialmente aceitável. O relacionamento abusivo não escolhe classes sociais nem graus acadêmicos. É necessário acabar com falsas premissas e clichês qualitativos e estratificantes. Permeia todos os muros, níveis e categorias. Todos estamos sujeitos a ele.

O relacionamento abusivo não deve ser confundido com relacionamento conflitivo, àquele onde um casal vive “às turras”, brigando e discutindo por assuntos banais, ou procurando “pelos no ovo”, como é dito comumente. Não é este modelo de convívio que estamos focando.

O abuso geralmente se manifesta num ambiente que em nada se assemelha a uma batalha doméstica. Há um padrão comportamental identificado, onde agressões e violência física inexistem. O abusador, mostra-se gentil, carinhoso, romântico e por vezes altamente apaixonado. Atrai a presa para sua teia alimentando sua autoestima de forma intensa e envolvente. Percebe-se um discurso amoroso, com declarações inflamadas, onde afagos carinhosos e intensos elogios pessoais despertam emoções e sentimentos represados.

Neste ponto, devemos abrir um parêntese para esclarecer um aspecto chave que não podemos deixar de mencionar: O amor é lindo, e nunca é demais. Uma manifestação carinhosa, um reconhecimento, um elogio, quando espontâneo e natural, alimenta com sua energia a chama da felicidade. É a essência da vida a dois.

A luz de advertência deve ser acessa quando essas manifestações são exageradas, quando as provas de amor são cobradas de forma intensa e repetitivas. É necessário perceber e saber diferenciar uma declaração de amor espontânea daquela que tem, como objetivo mudar o foco, ocultar uma eventual constatação de desvio ou, principalmente alterar uma situação determinada para permitir uma alteração de percurso e assumir o controle.

 4. Amor e manipulação

Quando a relação está nas suas fases iniciais de descobertas, onde a paixão se sobrepõe, tanto em intensidade quanto em emoção, não é difícil identificar rompantes de amor e discursos inflamados. Não são estes momentos que estamos considerando. O nosso foco está centrado naquele relacionamento consolidado, estável ou pelo menos com certo grau de “normalidade relacional e social”. Não há romantismo “pulsante”, oscilatório, periódico. O amor é suave, permanente, continuado. É “no dia-a-dia” que se ama.

Quando a relação está pautada por episódios cíclicos de brigas, humilhações, ciúmes, críticas banais e desnecessárias, seguidas por momentos “especiais” de arrependimentos, romantismo, atitudes compensatórias e singularmente apaixonadas, devemos parar para pensar. Há, certamente uma luz de alerta se ascendendo.

Não se tapam buracos na relação com romantismo, flores ou declarações apaixonadas. Os desentendimentos não podem ser acobertados com presentes ou jantares à luz de velas. São as atitudes diárias que falam mais alto. Surpresas, presentes, caixas de bombons ou elogios ardentes não são demonstrações de amor. O amor se vive na pele, nas emoções, no compartilhamento de momentos bons e ruins. Se consolida na rotina do conviver em paz, não na excepcionalidade de um instante.

Promessas repetidas, regadas a desculpas e arrependimento, certamente não frutificarão, pois estão contaminadas com a intencionalidade. Não há sinceridade no pedido de perdão reiterado.

 5. Mudar para melhorar

Uma segunda faceta indicativa de um possível relacionamento abusivo pode ser identificada nas eventuais propostas realizadas, de forma indireta ou não, com intenção de promover mudanças comportamentais na outra parte.

Não nos referimos as propostas críticas realizadas de forma sincera e amorosa, com intenção construtiva, resultantes de diálogos abertos e bem intencionados. Uma relação baseada no amor e na sinceridade, permite a troca de opiniões francas assim como os diálogos críticos dentro dos limites naturais do respeito a individualidade e independência de escolha de cada um. Hábitos, gostos e costumes podem, e devem ser revistos, sempre de forma propositiva e na intenção de melhorar e aprimorar uma relação. Um casal aprende e evolui no diálogo e no amor, com tolerância e respeito pelas escolhas individuais. Isso não representa submissão. Ouvir a pessoa que nos ama ou aceitar sugestões dela, quando bem intencionadas, ajuda a estabelecer uma relação de intimidade e parceria.

Quando as mudanças sugeridas envolvem traços pessoais e particulares de comportamento, estrutura do pensamento ou estilo de vida, para serem adequados à identidade e preferências do outro, estaremos frente a uma invasão tóxica de nossa personalidade.

O abusador, de forma sutil, porém consistente, buscará mostrar que uma atitude correta, um modo certo de pensar ou agir está sempre assentado na sua própria forma de enxergar as coisas. Seu corte de cabelo, suas roupas, suas escolhas pessoais, suas amizades, seus perfumes, os livros que você lê, seus cursos e atividades acadêmicas, enfim, as características próprias de sua personalidade serão questionadas indiretamente. Não haverá uma crítica objetiva e contundente, mas comentários depreciativos e desaprovadores do tipo:

-   “Isso não está errado, claro. Porém ficaria melhor em você assim ou de tal forma...”

-    “Esse perfume é doce demais para você... prefiro tal outro...”

-   “Não entendo como você pode gostar disso..., eu prefiro assim.”

-   “Essa roupa fica melhor em pessoas magras... acho melhor para você, essa outra.”

-   “Esse curso é totalmente sem futuro... para você melhor seria...”

 Você pode pensar que nada custa uma pequena adequação no meu penteado, ouvir sua opinião, atender seus desejos, realizar pequenos ajustes de estilo para atender seus pedidos. Pequenos sacrifícios ajudam a manter uma boa relação, certo?

Errado. Nos termos acima expostos, o que realmente está acontecendo é uma verdadeira submissão da individualidade, um cancelamento da identidade. A liberdade de pensar, de gostar, de ser, desejar e sonhar, é bloqueada. As emoções são anuladas, o prazer é substituído pela insegurança e o medo. Não há amor nessa relação. Ele morreu na sutil teia da dor.

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.


quinta-feira, 8 de abril de 2021

Não haverá segunda vez

Não somente no Brasil, mas em todos os recantos do planeta existem milhares de pessoas que adotam uma posição negacionista comum frente as incontestáveis evidências que comprovam, pela ciência e pela evidência, que o vírus que provocou a pandemia mata pessoas. Em pensamento convergente, incorporam-se a estes sujeitos àqueles que enxergam uma conspiração maliciosa na adoção de medidas estatais para enfrentar os efeitos do Coronavirus assim como outros que contestam, a eficácia das vacinas, o aquecimento global, e outros temas por demais conhecidos.

Multidões de jovens, e não tão jovens, mostram-se incapazes de submeter-se a determinações restritivas das liberdades sociais, não pelo fato de serem inconsequentes, imprudentes, irresponsáveis ou levianos (tanto faz uma definição ou outra), mas como resultado de uma clara postura de denegação (ou renegação).

Contrariamente ao que muitas pessoas pensam, a denegação não significa rejeitar ou negar um determinado fato ou situação. Renegar refere-se à recusa da percepção de uma evidência que se impõe no mundo exterior. É a evidência objetiva daquilo que está reprimido no inconsciente do sujeito.

Na denegação impõe-se um não explícito em contraposição a um sim reprimido. Devemos observar que um renegado, não afirma que uma determinada situação não existe, mas sua atitude está em contraposição a essa situação real. A terra é uma bola, porém minha posição está fincada no terraplanismo. Há evidências da esfericidade, porém defenderei a topologia plana.

Ao renegar das evidências aceito, inconscientemente, que a mesma existe. Sua atitude provoca uma profunda clivagem no seu comportamento: sabe da existência de um iminente perigo; a sua percepção do mesmo é concreta, porém, seu comportamento e suas atitudes o negam.

“O fumo mata milhões de pessoas, sei disso, porém, continuo fumando pois me traz prazer”.

Negar a pandemia e seus efeitos passa pela afirmação de que a mesma não existe, que é criação de indivíduos mal intencionados.

Mas como sustentar isso, frente ao caos instalado?

Não há como negar sua existência, rejeitar o óbvio, mostrado de forma permanente e continuada pelos diversos canais de comunicação de massa ao redor do mundo. O mundo em si, a própria humanidade, está frente a um perigo explicito, concreto e generalizado, que dificilmente encontra paralelo na história.

Àquele que denega esconde, nessa negativa, seu medo. Sua postura negacionista, mascara seu temor nas suas atitudes desafiadoras. Projeta, sobre si, uma imagem de força que no seu foro íntimo, não possui. Veste as roupas de super-herói sobre uma estrutura psíquica abalada pelo temor. Não há registros de experiências anteriores no seu subconsciente capazes de sinalizar o perigo de forma consistente. A realidade é visualizada como videogame. Uma realidade “virtual”, onde a vítima é “o outro”. Na sua percepção, os mortos não são seres humanos, mas escores registrados nos contadores estatísticos mostrados em gráficos coloridos e tabelas organizadas nas telas de altíssima definição dos aparelhos eletrônicos.

Existe uma dualidade de opiniões que se contrapõem permanentemente e exercem uma enorme pressão psíquica sobre esses sujeitos. A visão sanitarista, que conclama a população a se proteger, é permanentemente descontruída pela visão economista, que projeta imagens do desastre social resultante do fechamento das fontes de renda tais como comércio, indústria, escolas e similares. A desconstrução da realidade através dos mecanismos de distorção da informação, provocam um efeito de refração da verdade. Aquilo que percebemos não é real. A imagem real está deformada, e essa visão promove mecanismos psíquicos de rejeição dessa realidade.

“Nada irá me acontecer, milhares de pessoas pegaram uma simples gripe, os jogadores do meu time pegaram, passaram 10 dias em casa e estão jogando de novo...”

Frente a uma notícia desfavorável, que ofende ou compromete sua realidade, preferem matar o mensageiro e ignorar os perigos com que a realidade se apresenta.

Nem todas as pessoas reagem desta forma. Há aquelas que mergulham em depressão, aproveitando a oportunidade para se isolar do mundo. Outras são tomadas por angustias indescritíveis ou adotam posturas obsessivas de isolamento e bloqueio, transformando os necessários cuidados em rituais obsessivos de lavagem de mãos, utilização de álcool gel e máscaras protetoras, numa ação de permanente purificação e constrição, querendo se livrar de uma suposta culpabilidade frente ao perigo de serem contaminados. Indiscutivelmente, o ser humano, seja jovem ou maduro, deve conviver continuamente com níveis de insegurança ou incerteza decorrentes do cotidiano. Nada é totalmente seguro nem absolutamente perigoso. Sempre houve e haverá, em diferentes níveis, riscos a serem corridos. Porém, nas atuais circunstâncias, certamente os riscos ultrapassam todos os limites de segurança que possamos estabelecer. Ninguém está livre deles. Podemos, eventualmente, assumir riscos potencialmente menores, ao realizar certas atividades necessárias, atendendo todas as regras de proteção. Fazer compras em um supermercado ou numa farmácia, por exemplo. Faz parte das regras do jogo. Porém, ao participar com dezenas ou centenas de pessoas de uma balada, em um ambiente fechado, compartilhando espaços e utensílios com “conhecidos” ou “desconhecidos”, certamente não estaremos assumindo riscos potencialmente menores, mas jogando a roleta russa com uma arma carregada com 5 balas no tambor, de seis possíveis. Estamos sendo controlados por um mecanismo de massificação, onde as atitudes são adotadas pela identificação com “o outro”.

“Se meus amigos podem, eu posso. Se eles fazem, eu acompanho.”

Perde-se a singularidade racional no coletivo emocional. Não há individualidade de pensamento, avaliação de riscos, receio das consequências.

Marcha-se de forma anestesiada em direção ao caldeirão, sorrindo e desprezando todos os sinais de alerta. Caminha-se em direção ao inimigo, de peito aberto, sorrindo desafiante, na certeza de que nenhum projetil os abaterá.

Não haverá segunda vez. O fogo inimigo é cerrado e altamente eficiente. Só existe alternativa, se aceitamos permanecer na trincheira. Em silêncio. Aguardando pacientemente a luz do sol.          

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Saber fazer – poder fazer – querer fazer.

Para termos sucesso em qualquer empreendimento de nossas vidas, devemos atender um mínimo de três requisitos básicos para alcança-lo. Saber fazer, poder fazer e finalmente querer fazer. Dificilmente alcançaremos o objetivo, se algum desses requisitos não estiver atendido.

 1. Saber fazer

Saber fazer requer conhecimento. Muito conhecimento. Envolve uma capacidade inata do ser humano: a capacidade de aprender. É necessário saber para fazer. Nada poderá ser feito se não houver o necessário saber. Porém, aprender não é um processo simples. Essa aprendizagem é consequência da aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que se realiza através do ensino, em suas diversas etapas, da experiência ao longo de toda a vida e dos estudos específicos, realizados em campos de interesse particular de cada indivíduo. Se processa de forma gradual, progressiva e acumulativa. Envolve grandes doses de atenção, memória, linguagem, raciocínio e requer frequentemente uma tomada de decisão na escolha do que é certo ou errado. Não se aprende do dia para a noite. Aprender requer uma vida, e a cada dia se aprende algo novo.

 2. Poder fazer

Supondo que o requisito de saber fazer é atendido, nos deparamos com o segundo requisito obrigatório para a obtenção do sucesso na empreitada: devem existir as condições necessárias e suficientes para poder fazer o que nos propomos. Estas condições são as mais diversas possíveis e dependem do tipo de desafio a ser enfrentado. Local, equipamentos, suprimentos, capital, matérias primas, estoques, disponibilidade, pessoas, conectividade, logística, enfim, àquilo que nos permitirá alcançar nosso objetivo.

Quando as condições para poder fazer o que nos propomos fazer não estiverem presentes, certamente o fracasso estará muito próximo. A meta dificilmente será alcançada.

Embora estas dificuldades são fatores complicadores de extrema importância, nada será impossível de superar se pudermos contar com um planejamento adequado e o tempo necessário para sua implementação.

 3. Querer fazer    

Ergue-se a nossa frente a principal arma para derrubar qualquer barreira de impedimento. Absolutamente nada será feito se o querer fazer não estiver dominando as ações. Ao querer fazer nos armamos com um aríete capaz de penetrar as mais resistentes muralhas que se apresentarem em nosso caminho. Não há obstáculo instransponível quando a vontade de fazer está presente. Das pedras destilamos leite, dos sonhos extraímos respostas, das promessas colhemos frutos.

Sem querer fazer não há resultado possível. Não há metas alcançadas nem catedrais construídas. Não haverá luz na penumbra, nem compromissos atendidos. O conhecimento torna-se inútil, e os suprimentos perderão sua validade. A vida perde sua razão de ser.

O saber fazer e o poder fazer tornam-se inúteis quando o querer fazer não se incorpora aos nossos sentimentos e impulsiona nossas ações. Esta é a essência do sucesso: querer fazer.

 Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.