quarta-feira, 24 de março de 2021

Hipocrisia e Pensamento Esquizofrênico.

Ao apagar das luzes do ano de 2020, mais precisamente em 28 de dezembro, realizamos uma postagem na qual discorremos sobre o Discurso Hipócrita . Nesse espaço afirmamos:

 O discurso hipócrita não é casual na sua origem. Está fundamentado na intencionalidade da ação e tem como objetivo distorcer a verdade, enganar, confundir, criar uma realidade paralela, negar a evidência dos fatos, que são substituídos por falsas e distorcidas imagens e afirmações. Esse negacionismo cria suas raízes na fertilidade propiciada pela ignorância do sujeito. Assim se sustenta, e desenvolve seus tentáculos inoculando seu veneno, subtraindo a capacidade de pensar. (Pisandelli, 2020).

 

Pensar uma coisa, e dizer outra, é comportamento determinante daqueles que utilizam a hipocrisia como mecanismo de interlocução com os outros. Afirmamos, ainda:

O discurso hipócrita, é um poderoso veneno que possui a capacidade de subjugar as pessoas, dominar suas ações e controlar seu pensamento. Traz, na sua essência uma imensa energia subliminal, que direciona, aglutina e comanda. É mutante, adaptativo, maleável. Não existe antídoto para ele. (Pisandelli, 2020).

 

Embora, à utilização da hipocrisia na dialética de uma relação seja altamente tóxica para as pessoas, e suas consequências sejam frequentemente evidenciadas através da ruptura conflitiva da mesma, podemos agregar um fator agravante que potencializa negativamente essa atitude. Estamos nos referindo à incorporação de um conteúdo esquizofrênico a esse discurso.

Para melhor entender nosso ponto de vista, devemos primeiramente considerar que a esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico que se manifesta, geralmente no final da adolescência e o início da vida adulta. É uma doença crônica, de natureza muito complexa e que, sendo identificada, exige tratamento médico, contínuo e por toda a vida. Não é uma doença adquirida, mas um transtorno de origem estrutural, resultante de uma alteração cerebral que dificulta a realização de um julgamento correto sobre a realidade, proporciona a produção de pensamentos simbólicos divergentes e abstratos e promove a elaboração de complexas respostas emocionais em determinadas situações. A origem do termo Esquizofrenia se encontra nas raízes gregas schizo (cindir, dividir) e phren (mente), simbolizando o fato de que as funções mentais (pensamento, raciocínio e outras) se encontrariam divididas naqueles pacientes acometidos desse distúrbio.

Ao falar do conteúdo esquizofrênico no discurso não pretendemos estabelecer um prognóstico de esquizofrenia para o discursante, mas incorporar aos elementos que compõem seu pensamento, àqueles núcleos que caracterizam uma posição esquizofrênica frente ao outro. Neste aspecto, vemos que o delírio, quando inserido nas linhas de raciocínio decorrentes da forma como o pensamento está captando a realidade e determinando as críticas sobre a mesma, introduz esse conteúdo esquizofrênico mencionado acima. Esse discurso se alimenta, nestas circunstâncias, de entendimentos diferentes dessa realidade, incorporando e alicerçando as crenças e convicções em propostas, fatos e situações que não são compartilhadas pelas outras pessoas devido à total falta de coerência com a percepção coletiva. Contaminado pelo raciocínio esquizofrênico, o autor adota estratégias ou captura conceitos específicos nos fatos que estão acontecendo à sua volta, extraindo deles conclusões irracionais, que contrastam com a realidade, distorcem a objetividade e promovem uma nova estrutura de pensamento baseada em devaneios e afirmações que confrontam com as evidências objetivas.

A toxicidade do discurso hipócrita se potencializa ao incorporar a vertente esquizofrênica multiplicando, desta forma, seu poder destrutivo. É aceito como alternativa de pensamento por aquelas pessoas que, frente a questionamentos não respondidos, procuram saídas para suas angústias e incertezas. Contamina e se espalha com incontrolável energia. Distorce a realidade e deturpa a verdade, a ponto de substituí-la. Sua força é avassaladora, porém, seu conteúdo não é lançado a esmo, solto no espaço como nuvem impulsionada ao sabor dos ventos. Possui uma estrutura vetorial claramente estabelecida: Tem origem, intensidade, direção e sentido. Quando somados, outros pensamentos similares se potencializam incorporando e equalizando seus conteúdos, gerando uma ação mais contundente e eficaz.

Somente há uma força capaz de detê-lo. A força da razão e da objetividade. A não aceitação dos devaneios frente a realidade objetiva. Não haverá sucesso no confronto direto. Somente uma percepção firme e serena da realidade, frente ao delírio, permitirá derrotar sua força. Na batalha da razão não há espaço para o discurso hipócrita esquizofrênico. O combate deve ser travado na sua origem, a semente deve ser destruída, antes de germinar. Se as raízes penetrarem no solo fértil, corremos o risco de sermos asfixiados por elas.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

 

Referencia

PISANDELLI, Sergio Pedro. A hipocrisia no discurso.  http://spisandelli.blogspot.com/2020/12/a-hipocrisia-no-discurso.html. Acessado em 24/03/2021