quinta-feira, 17 de março de 2022

As palavras, úteis ou fúteis?

 Existem momentos nos quais é necessário parar por alguns instantes para refletir sobre certos acontecimentos que afetam nosso dia a dia e, consequentemente, de uma forma ou de outra, nossa vida. Me refiro ao valor verdadeiro de tudo aquilo que, a cada momento recebemos como informação, através de palavras e mensagens enviados pelos médios de comunicação disponíveis.

Como ponto de partida, me permito retornar um pouco no tempo, até 16 de novembro de 2020, quando publiquei neste blog um texto onde foram tecidos alguns comentários sobre “O poder da palavra”. Traduzimos nossas ideias com os seguintes conceitos, que permanecem atuais:

 

A palavra, como elevada forma de expressar os pensamentos, tem a capacidade de tornar transparentes os sentimentos do ser humano e adotam a cor, o brilho e o sabor das emoções com as quais são proferidas.

Nos aparece encarnada na explosão da ira, celeste nas preces, rosa no canto maternal. Brilhante quando elogia, opaca-se numa calunia. Doce no afago, se azeda na crítica. Amorosa no abraço, sensual na expressão, libidinosa na resposta, assume o papel de mensageiro das emoções.

Possui afiadas bordas que provocam profundas feridas quando proferida de forma insensata, mas pode também, ser portadora do bálsamo delicado que cicatriza os cortes.

A palavra é arma e redenção, é ofensa e compreensão; é instrumento, objeto, recipiente e conteúdo. É poderosa. Marca, deixa rastros. O Ser encarna-se através da palavra, da mesma forma que o Poder e o Querer.

Sendo assim, tão valiosa e volúvel, todos os cuidados possíveis devem ser tomados antes de usá-la. Vale muito mais uma palavra silenciada na esperança de uma reconciliação, que uma torrente verbal avassaladora despejada com ódio no calor de uma disputa. (Pisandelli, 2020) [1]

 As palavras podem estar impregnadas de valor, de significado e relevância. Podem ser comparadas a um vetor de impulso que através de sua ação, proporciona oportunidades de melhoria e crescimento nas relações interpessoais. São aquelas palavras que transportam, no seu seio, energias positivas, boas intenções e sobre tudo um verdadeiro e sincero desejo de crescimento social. São palavras úteis, que acrescentam e constroem. Não há energia negativa, desejo de vingança ou crítica azeda.

Em contrapartida, existem àquelas palavras, que impregnadas de uma seiva amarga e corrosiva queimam, ferem nossos espíritos. Voam como setas agressivas, lançadas para lacerar sem importar as consequências dos seus efeitos. Somente projetam raiva, ressentimento e despeito. São palavras fúteis, que nada constroem nem acrescentam. São ocas, sem importância relevante nem utilidade. Caracterizadas por uma sensação de mágoa, são geradoras de desprazer, de rancor ou de angústia sentida por àqueles que são alvos escolhidos.

Pequena é a diferença entre as expressões úteis e fúteis, mais enorme enquanto ao seu significado. É neste ponto que desejamos chamar para reflexão nosso leitor.

A crítica, quando construtiva e bem intencionada, sempre será útil, bem vinda. As palavras corrigem sem ferir, ajustam sem ofender, sugerem sem lacerar. Uma opinião será sempre bem recebida quando seu objetivo esteja pleno de boas intenções.

Sendo ela destrutiva, agressiva ou debochada, será sempre fútil, irrelevante, sem importância nem utilidade. Estará desprovida de essência, será tola e desnecessária.

Abençoados são todos os médios de comunicação, que encurtam distâncias, que nos permitem estar a par, quase instantaneamente, de tudo àquilo que de bom ou de ruim acontece em nosso mundo. Não tenho nada a criticar sobre o progresso da comunicação. Minha angustia se centra naquelas mensagens fúteis, escritas por pessoas que não se aprofundam nos assuntos, que não param para pensar sobre àquilo que expressam, nem muito menos nos efeitos que suas palavras podem provocar.

Sugiro meditar sobre este assunto e sua importância. A “Caixa de Pandora” foi aberta, e assim permanece há muitos e muitos anos, espalhando todas suas mazelas na humanidade. Porém, e a pesar de tudo, ainda resta a Esperança, solidamente fincada no interior de nossos corações.

Vamos meditar um instante antes de escrever ou enviar qualquer mensagem, informação ou notícia. Vamos tratar de que sejam sempre úteis e jamais fúteis.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Paternidade responsável e consumismo

 

Em fevereiro de 1999, escrevi um artigo para a revista “O CENECISTA”[1] a convite do então Superintendente da CNEC – CE, Prof. José Lúcio Ferreira de Melo. Transcrevo o mesmo hoje, 08 de março de 2022, ou seja, depois de transcorridos 23 anos, daquela data. A sua releitura me proporciona a oportunidade de refletir sobre o tema em epígrafe: “Paternidade responsável e consumismo”. Vamos, sem mais delongas ao referido texto:

         “O Brasil enfrenta mais uma das, até agora, infinitas crises econômicas e de credibilidade das suas instituições e lideranças. A estrutura financeira do sistema encontra-se abalada e sua instabilidade reflete-se no seio da população, castigando, preferencialmente, camadas cujas rendas são menores. A situação está tomando uma tal gravidade que até as chamadas classes favorecidas sentem, na própria carne, a dor de perder sua liberdade de consumir.

         Esse descalabro atinge, e não poderia ser de forma diferente, os setores produtivos, comercial e de serviços. Dentro destes últimos anos, não podemos deixar de destacar os estabelecimentos educacionais. As escolas estão sendo penalizadas de forma criminosa, retirando-se delas sua capacidade operacional, através do aumento contínuo de suas despesas sem poderem repassar esses custos para o lado das receitas.

         Hoje, está sendo colocado em xeque o futuro do Brasil, comprometendo a qualidade de ensino das crianças que serão nossos líderes amanhã.

         Essas crianças são nossos filhos, não os filhos dos outros. A responsabilidade pela formação dos futuros homens e mulheres é nossa, portanto devemos refletir sobre qual deve ser nossa postura como pais, frente a essa contingência.

         A escola de nossos filhos deve ser a melhor e mais completa possível. Deve ser aquela que tenha uma proposta pedagógica dirigida à formação do ser humano completo. Não simplesmente dirigida a preparar uma dúzia de alunos para serem campeões do vestibular. Nossa cobrança deve ser neste sentido, pois a oportunidade de formar nossas crianças somente tem caminho de ida. E quando passa, jamais se repetirá.

         Nós temos essa escola bem a nossa frente. Nossos filhos são seus alunos. E somos os responsáveis pela sua continuidade. É nossa obrigação moral lutar pela sua sobrevivência. E para isso devemos assumir o compromisso pela sua manutenção como modelo de excelência no ensino. Qualquer sacrifício vale a pena, pois é o futuro de nossos filhos que está em jogo.

         Devemos refletir profundamente sobre este assunto, principalmente na hora crítica em que comprometemos nossa renda em gastos que podem ser evitados. A escola é um investimento com o melhor retorno possível. O consumo é um veneno que nos mata lentamente tirando de nós toda a capacidade de honrar a paternidade responsável.

         Cada vez que utilizamos os cartões de créditos, cheques pré-datados, os crediários ou, até mesmo, o dinheiro vivo, devemos nos fazer estas perguntas: Já fiz o investimento mensal nos meus filhos? Meu compromisso com sua formação foi cumprido?

         Se a resposta for “ainda não”, devemos parar e pensar. Os impulsos de consumo devem ser refreados e nosso talão de cheques deve ser guardado. Devemos dar um basta à falsa ilusão de poder que a publicidade lapida em nossas mentes. Força e poder são decorrentes do orgulho que devemos sentir como pais responsáveis.

         A escola é a forja onde se modela o caráter de nossos filhos. Para que o resultado seja o desejado, devemos mantê-la acessa.

         E somos nós que alimentamos sua fornalha com carvão.

      Claramente, o mundo dá múltiplas cambalhotas, mudanças se sucedem em ritmo vertiginoso, não mais há “vestibular” e “cheque pré-datado”, mas há ENEM, PIX, TED, DOC e uma torrente de meios de estudo e pagamentos novos e ingeniosos. Muitos dos filhos de 23 anos atrás, são hoje pais corujas que levam diariamente seus pequenos às escolas modernas. Somente há uma coisa que permanece imutável no tempo: A paternidade responsável e o consumismo. Um consumismo exacerbado pelo modo atual de vida, pela facilidade de pagamento, pelas ofertas imperdíveis, pelos milagrosos produtos importados ou nacionais que nos oferecem facilidades e benesses incríveis. Tudo ao alcance da mão, no celular, no pagamento instantâneo, na entrega à domicílio. É necessário sobrepor a paternidade responsável ao consumismo, e lapidar em nossos filhos essa consciência, para que no futuro, sejam eles os novos pais responsáveis que possibilitem, com seus atos, a permanência do ser humano consciente de sua missão irrenunciável na vida.

        Vinte e três anos se passaram desde essa publicação. Meus filhos, alunos das séries iniciais, na época são hoje profissionais de sucesso dos quais muito me orgulho. Tenho certeza de que muitos erros foram cometidos nesse tempo. Errar faz parte da vida. Porém uma coisa que jamais pode ser negligenciada é a paternidade responsável. O preço a pagar pela omissão, certamente será caro demais.

    

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.  



[1] Revista “O CENECISTA”. Fevereiro de 1999. Pag. 22