sábado, 18 de dezembro de 2021

Onde está o lobo mau...?

 Nossos filhos serão sempre aquilo que o destino prover, mas é nossa obrigação cuidá-los e orientá-los, para que esse destino consiga se tornar uma realidade plena de alegrias e felicidade. O Autor

A sociedade contemporânea passa por mudanças contínuas, radicais e imprevistas, as quais se processam de tal forma aceleradas que frequentemente nos resulta praticamente impossível acompanhá-las na sua totalidade, visto o ritmo frenético, quase torrencial com que aparecem. Uma imensa maioria, acontece, evolui e desaparece sem que sequer tomemos, ao menos, conhecimento de sua existência. As pessoas, seus negócios, interesses, desejos e relacionamentos se multiplicam, desdobram, modificam, fusionam e/ou adotam as formas mais diversas possíveis. Os mecanismos, regras, normas e canais de comunicação e interação social são mutantes, interligados, multiformes. Se apresentam em multiplataformas e obtém alcance planetário quase imediato. As fronteiras e limitações físicas são abolidas em nome do progresso, da globalização e da liberdade de expressão. Atitudes éticas e comportamentais tradicionais são contestadas e substituídas por novas sem terem previamente passado pelo recomendável crivo de um julgamento crítico. Muitas destas novas atitudes possuem regras normativas (quando as possuem) cujos valores nem sempre se fundamentam numa razão ou estruturação sólida e consistente que justifiquem a mudança. As vezes são simples mudanças de tons, das mesmas cores. Outras, no entanto são radicais, a ponto de estabelecer verdadeiras revoluções estruturais na arquitetura da sociedade. 

As cidades, hoje transformadas em megalópoles, gigantescos e massivos conglomerados urbanos, padecem com suas ruas saturadas de veículos, seus enormes centros comerciais e imensas torres de cimento, aço e cristal que crescem e se expandem a cada instante, em todos os sentidos possíveis. Sempre maior, mais largo, mais alto, mais profundo, procurando utopicamente um pseudo-isolamento físico alienado. Nesse espaço privativo e isolado se procura, curiosamente e de todas as formas possíveis, permanecer continuamente interligado com o resto do mundo.  As distâncias se encurtam de tal forma, que é possível tomar o café da manhã em Fortaleza, almoçar em Brasília e jantar em Buenos Aires, tudo num mesmo dia. Paradoxalmente, um verdadeiro caos relacional, estabelece suas próprias regras, e as pessoas mergulham a cada dia, de forma mais e mais profunda nele. Nada permanece imutável na vida dos seres humanos. Tudo é permanente até ser substituído. A relação familiar é descartável! O amor eterno de hoje se transforma em ódio amanhã. Mata-se um filho porque incomoda no relacionamento entre os pais. Adota-se um animal, e abandona-se uma criança no depósito de lixo.

Certamente haverá pessoas que, levantarão suas vocês de indignação ao ler estas palavras. Outras reconhecerão, que de uma forma ou de outra já participaram de situações similares. Muitas, sem dúvida, as rejeitarão, taxando-as de exageradas e mentirosas.

Embora relevantes e sempre respeitadas por mim, essas opiniões individuais e divergentes não passam disso, pois não há possibilidades de fugir da realidade. Uma realidade que está presente no dia-a-dia, e vivenciada por nós, e somos parte inseparável dela. Não obstante essas avassaladoras mudanças, existem múltiplos elementos ocultos que fazem parte dessa sociedade em permanente e dolorosa revolução, que continuam solidamente enraizados nas suas entranhas, nos alicerces de sua estrutura, desde o início dos tempos e que, embora alterando continuamente sua roupagem, jamais deixaram de estar presentes, comprovando com sua presença que a pesar das mudanças, muitas coisas continuam iguais.

Estamos nos referindo a uma praga universal que se encontra entre as maiores e mais dolorosas mazelas sociais: a pedofilia, o abuso sexual de crianças. Ela se espalha em silêncio, se ramifica, muda de forma, de cor e de tamanho. É contaminante e parasita suas vítimas, sugando delas o sorriso, a alegria de viver e deixando nelas cicatrizes indeléveis que as marcarão para sempre.

Não obstante, e a pesar da gravidade da situação, podemos considerar que nem tudo está perdido. Pandora, na sua angustiante constatação do erro cometido, ainda tentou fechar a ânfora divina, mas era tarde demais: tudo tinha vazado dela, com a exceção da "esperança", que permaneceu presa junto a sua borda. Essa esperança se encontra hoje alojada em nossos corações e assim deve permanecer sempre, viva neles. Esta é a única forma de assegurar que o homem não será derrotado pelo mal, sucumbindo às dores e aos sofrimentos da vida.

Este trabalho não é uma denúncia, nem uma receita para julgar o pedófilo nem um manifesto destinado a acabar com a pedofilia, mas uma forma de trazer à tona uma verdade, nem sempre evidente: a necessidade de exercer uma paternidade responsável, requisito essencial para a sobrevivência do ser humano. Sermos pais responsáveis envolve muito mais que procriação, alimentação e satisfação de desejos de consumo dos filhos. É a tarefa mais nobre e complexa que o ser humano deve enfrentar, embora nem sempre sejamos perfeitamente conscientes disso. Essa paternidade requer como obrigação, a necessidade de olhar para nossos filhos com amor, e sermos capazes de abdicar de tudo aquilo que seja banal em nome desse amor.

Nossos filhos serão sempre aquilo que o destino prover, mas é nossa obrigação cuidá-los e orientá-los, para que esse destino consiga se tornar uma realidade plena de alegrias e felicidade. Ensinar e educar são coisas diferentes. A escola pode assumir a responsabilidade de ensinar, más a educação é um encargo que corresponde exclusivamente ao grupo familiar. É uma tarefa indelegável, impossível de ser terceirizada. Essa educação inclui, no seu âmago o cuidado pela prevenção da integridade física e mental das crianças. Deixa-la de lado, significa abdicar da função paterna.

Esperamos que a leitura deste texto permita acender uma luz na úmbria caverna do caos, e permita nos orientarmos, para que, junto aos nossos filhos encontremos o melhor caminho em direção à saída.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.