Nossos filhos serão sempre aquilo que o destino prover, mas é nossa obrigação cuidá-los e orientá-los, para que esse destino consiga se tornar uma realidade plena de alegrias e felicidade. O Autor
A sociedade contemporânea passa por
mudanças contínuas, radicais e imprevistas, as quais se processam de tal forma
aceleradas que frequentemente nos resulta praticamente impossível acompanhá-las
na sua totalidade, visto o ritmo frenético, quase torrencial com que aparecem.
Uma imensa maioria, acontece, evolui e desaparece sem que sequer tomemos, ao
menos, conhecimento de sua existência. As pessoas, seus negócios, interesses,
desejos e relacionamentos se multiplicam, desdobram, modificam, fusionam e/ou
adotam as formas mais diversas possíveis. Os mecanismos, regras, normas e
canais de comunicação e interação social são mutantes, interligados,
multiformes. Se apresentam em multiplataformas e obtém alcance planetário quase
imediato. As fronteiras e limitações físicas são abolidas em nome do progresso,
da globalização e da liberdade de expressão. Atitudes éticas e comportamentais
tradicionais são contestadas e substituídas por novas sem terem previamente
passado pelo recomendável crivo de um julgamento crítico. Muitas destas novas
atitudes possuem regras normativas (quando as possuem) cujos valores nem sempre
se fundamentam numa razão ou estruturação sólida e consistente que justifiquem
a mudança. As vezes são simples mudanças de tons, das mesmas cores. Outras, no
entanto são radicais, a ponto de estabelecer verdadeiras revoluções estruturais
na arquitetura da sociedade.
As cidades, hoje transformadas em
megalópoles, gigantescos e massivos conglomerados urbanos, padecem com suas
ruas saturadas de veículos, seus enormes centros comerciais e imensas torres de
cimento, aço e cristal que crescem e se expandem a cada instante, em todos os
sentidos possíveis. Sempre maior, mais largo, mais alto, mais profundo,
procurando utopicamente um pseudo-isolamento físico alienado. Nesse espaço
privativo e isolado se procura, curiosamente e de todas as formas possíveis,
permanecer continuamente interligado com o resto do mundo. As
distâncias se encurtam de tal forma, que é possível tomar o café da manhã em
Fortaleza, almoçar em Brasília e jantar em Buenos Aires, tudo num mesmo dia.
Paradoxalmente, um verdadeiro caos relacional, estabelece suas próprias regras,
e as pessoas mergulham a cada dia, de forma mais e mais profunda nele. Nada
permanece imutável na vida dos seres humanos. Tudo é permanente até ser
substituído. A relação familiar é descartável! O amor eterno de hoje se
transforma em ódio amanhã. Mata-se um filho porque incomoda no relacionamento
entre os pais. Adota-se um animal, e abandona-se uma criança no depósito de
lixo.
Certamente haverá pessoas que,
levantarão suas vocês de indignação ao ler estas palavras. Outras reconhecerão,
que de uma forma ou de outra já participaram de situações similares. Muitas,
sem dúvida, as rejeitarão, taxando-as de exageradas e mentirosas.
Embora relevantes e sempre respeitadas
por mim, essas opiniões individuais e divergentes não passam disso, pois não há
possibilidades de fugir da realidade. Uma realidade que está presente no
dia-a-dia, e vivenciada por nós, e somos parte inseparável dela. Não obstante
essas avassaladoras mudanças, existem múltiplos elementos ocultos que fazem
parte dessa sociedade em permanente e dolorosa revolução, que continuam
solidamente enraizados nas suas entranhas, nos alicerces de sua estrutura,
desde o início dos tempos e que, embora alterando continuamente sua roupagem, jamais
deixaram de estar presentes, comprovando com sua presença que a pesar das
mudanças, muitas coisas continuam iguais.
Estamos nos referindo a uma praga
universal que se encontra entre as maiores e mais dolorosas mazelas sociais: a
pedofilia, o abuso sexual de crianças. Ela se espalha em silêncio, se ramifica,
muda de forma, de cor e de tamanho. É contaminante e parasita suas vítimas,
sugando delas o sorriso, a alegria de viver e deixando nelas cicatrizes
indeléveis que as marcarão para sempre.
Não obstante, e a pesar da gravidade da
situação, podemos considerar que nem tudo está perdido. Pandora, na sua
angustiante constatação do erro cometido, ainda tentou fechar a ânfora divina,
mas era tarde demais: tudo tinha vazado dela, com a exceção da "esperança",
que permaneceu presa junto a sua borda. Essa esperança se encontra hoje alojada
em nossos corações e assim deve permanecer sempre, viva neles. Esta é a única
forma de assegurar que o homem não será derrotado pelo mal, sucumbindo às dores
e aos sofrimentos da vida.
Este trabalho não é uma denúncia, nem
uma receita para julgar o pedófilo nem um manifesto destinado a acabar com a
pedofilia, mas uma forma de trazer à tona uma verdade, nem sempre evidente: a
necessidade de exercer uma paternidade responsável, requisito essencial para a
sobrevivência do ser humano. Sermos pais responsáveis envolve muito mais que
procriação, alimentação e satisfação de desejos de consumo dos filhos. É a
tarefa mais nobre e complexa que o ser humano deve enfrentar, embora nem sempre
sejamos perfeitamente conscientes disso. Essa paternidade requer como
obrigação, a necessidade de olhar para nossos filhos com amor, e sermos capazes
de abdicar de tudo aquilo que seja banal em nome desse amor.
Nossos filhos serão sempre aquilo que o
destino prover, mas é nossa obrigação cuidá-los e orientá-los, para que esse
destino consiga se tornar uma realidade plena de alegrias e felicidade. Ensinar
e educar são coisas diferentes. A escola pode assumir a responsabilidade de
ensinar, más a educação é um encargo que corresponde exclusivamente ao grupo
familiar. É uma tarefa indelegável, impossível de ser terceirizada. Essa
educação inclui, no seu âmago o cuidado pela prevenção da integridade física e
mental das crianças. Deixa-la de lado, significa abdicar da função paterna.
Esperamos que a leitura deste texto
permita acender uma luz na úmbria caverna do caos, e permita nos orientarmos,
para que, junto aos nossos filhos encontremos o melhor caminho em direção à
saída.
Você pode concordar ou não, porém essa
é minha opinião, aqui, somente entre nós.