“Não
podes encontrar nenhum remédio para o cérebro doente, da memória tirar uma
tristeza enraizada e com algum antídoto de esquecimento, doce e agradável,
aliviar o peito, que opresso, geme ao peso da matéria maldosa que oprime o
coração...”.
Shakespeare
Ao
começar uma palestra sobre o assunto da epígrafe, “Neurose nas Organizações”, fiz
a seguinte pergunta aos participantes:
–
Quem é neurótico?
Várias
respostas surgiram, rotulando diversos tipos de caracteres e personalidades
como “neuróticos”. Exemplos, anedotas e “causos” jorraram, sendo algumas delas
curiosas e até divertidas. Mas nenhuma das respostas coincidiu com a resposta
que estava aguardando. Uma avaliação rápida das mesmas permitiu tirar uma
conclusão rápida: neuróticos são os outros. Nenhuma resposta
incluía o sujeito que a estava enunciando. Depois de certo tempo, durante o
qual houve uma rica troca de opiniões, solicitei aos participantes que
encerrassem as discussões e ofereci a minha resposta à pergunta enunciada:
-
Todos, em maior ou menor grau, somos neuróticos!
A
plateia silenciou e percebi alguns movimentos de acomodação nas cadeiras por
parte daqueles que, poderiam não estar concordando com este conceito.
Partindo
deste princípio, considero importante, antes de prosseguir, explicitar o
conceito de Neurose.
O
que é Neurose?
É
um tipo de transtorno mental, onde não se observa nenhuma grande distorção da
realidade (como nos delírios ou alucinações), nem uma desorganização manifesta
da personalidade. A mesma decorre do conflito neurótico provocado pela
obstrução da descarga dos impulsos instintuais que ocorrem num estado em que
estes estejam reprimidos. O sujeito neurótico vai ficando cada vez menos
capacitado para administrar as tensões, sempre crescentes (e acumulativas), o
que acaba resultando na sua total sujeição. O indivíduo fica preso às emoções
reprimidas, procurando, de alguma forma uma descarga dessas tensões.
Como
exemplo podemos considerar aquele sujeito que recebe, repetidamente reprimendas
injustas do chefe. Até indivíduos dotados de uma sólida estrutura psíquica
podem ser vítimas de uma paralisia mental transitória induzida pela pressão
exercida pela estrutura organizacional no ambiente de trabalho.
Ao
voltar para casa, descarrega sua raiva projetando-a sobre um sujeito passivo e
inocente, que nem sempre é o cachorro. Pode ser algum membro da família, um
vizinho que deixou o carro atravessado na vaga, o porteiro e outros, que de
forma inocente acabam se transformando no recipiente de descarga dessa tensão.
As
pessoas neuróticas, em geral, apresentam algum grau de sofrimento e de
desadaptação em alguma, ou mais de uma, área importante de sua vida: sexual,
familiar, profissional ou social. Não entanto, conservam uma razoável
integração do self (a imagem de si mesmo), além de uma boa
capacidade de juízo crítico e de adaptação à realidade. Não devemos
confundir Neurose com Psicose que são coisas
bem distintas e com efeitos bastante diferentes. As psicoses são estados
de insanidade mental apresentados por indivíduos que demonstram uma real
incapacidade de reconhecer fatos e estabelecer relações entre eles,
caracterizados pela presença de delírios e/ou alucinações, em que o sujeito
costuma perder a noção da realidade.
Para
melhor ilustrar este conceito podemos considerar os seguintes exemplos de
psicoses:
• Coletiva: medo
ou terror, que acomete várias pessoas ao mesmo tempo;
• De
guerra: trauma derivado da participação em guerras;
• Canábica: causada
pelo uso prolongado de maconha.
• Maníaco-depressiva: delírios
de grandeza / poder alternados com outros de ruína, culpa, prejuízo, morte;
• Paranoia: transtorno
delirante (ver problemas onde não há).
• Esquizofrenia: delírios,
alucinações, comportamento e discurso francamente perturbados, (Ex.: conversar
com uma entidade divina, através dos pelos das pernas);
O
que é Neurose Organizacional?
É
um quadro de perturbação psíquica observada em algumas pessoas membros de uma
organização, as quais, geralmente, apresentam dificuldades de aceitação ou de
adaptação às normas, conflitos, exigências, responsabilidades e situações
diversas existentes. É importante salientar que na maioria dos casos, essas
pessoas conseguem trabalhar, estudar, ter vida amorosa e estar relativamente
bem entrosadas com a realidade, porém, existe “alguma coisa” que
as perturba, que não está bem.
As
pessoas vítimas de neurose organizacional vivem em permanente conflito psíquico
consigo mesmas. Não conseguem desenvolver de forma prazerosa suas atividades,
manter relacionamentos harmoniosos com seus gestores ou com outros membros da
equipe. Em outras palavras, estão impedidas de aproveitar as vantagens e
prazeres de uma existência livre de sofrimentos.
O
ser humano é um todo indivisível, e não pode ser explicado pelos seus distintos
componentes (físico, psíquico ou social-relacional), considerados
separadamente.
A
saúde, física e mental, de uma pessoa, não pode deixar de estar vinculada ao
resultado de seu histórico de vida, de seus processos psíquicos, das vivências
em família, daquilo que ficou recalcado (gravado) em seu inconsciente, das
relações interpessoais, do convívio em sociedade e de uma proposta de trabalho
que favoreça a realização de seus sonhos, suas aspirações para construção do
seu projeto de vida.
Muitas
vezes, um sujeito é rotulado como neurótico, sendo esta expressão mal utilizada
como sinônimo de louco, pirado. Isso não corresponde ao verdadeiro significado
da palavra. A neurose é um tipo de doença na qual os sintomas são a
expressão simbólica de um conflito psíquico que se constitui a
partir de compromissos entre o desejo e a repressão, utilizando-se para isso de
mecanismos de defesa.
Geralmente
estas neuroses eclodem a partir de situações antagonistas entre as próprias
expectativas e aquelas que emanam de outras pessoas ou das diretrizes
organizacionais. O neurótico tem consciência do seu problema e muitas vezes até
se surpreende com seu próprio comportamento, porém, é típico dele sentir-se
impotente para modificá-lo.
Como
as pessoas passam a maior parte de seu tempo “vivendo” ou trabalhando dentro de
organizações, onde não se escolhem os colegas de trabalho, é necessário
intervir para evitar o poder traumático e negativo que muitos colaboradores
exercem nos seus grupos, bem como, amenizar de forma gradativa o medo, a raiva,
o stress, a frustração, a ansiedade e a depressão que surge nos ambientes de
trabalho.
Você
pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.