Alquimia é uma prática baseada no misticismo, que teve seu auge durante a Idade Média (século V até século XV) e se estendeu até grande parte da Idade Moderna (século XV até século XVIII, que finda com a Revolução Francesa de 1789), incorporando nas suas técnicas os conhecimentos relativos às ciências, artes e magia existentes nessas épocas. Entre seus principais objetivos se encontravam a obtenção do elixir da vida, que garantiria a imortalidade e cura das doenças do corpo, e a busca da pedra filosofal, que permitiria a transmutação de metais comuns como chumbo e estanho em ouro. Podemos inferir que esses objetivos proporcionariam ao ser humano alcançar a imortalidade e a riqueza infinita.
Na
Idade Contemporânea, a ciência e as modernas tecnologias, tem promovido de
forma intensa o aparecimento de novos alquimistas da razão e do saber, poderosos
magos da comunicação que, utilizando-se do poder, alcance e penetração incomensuráveis
dos seus equipamentos, os utilizam como uma nova pedra filosofal, cuja mais
importante propriedade consiste em transformar a realidade concreta e objetiva,
regida pela verdade, em espaços virtuais paralelos onde essa realidade pode ser
manipulada, distorcida a vontade, e substituída por esquemas pré-determinados,
moldados a formas e interesses nem sempre em sintonia com essa realidade
concreta.
Esses
modernos alquimistas não improvisam nas suas práticas. Possuem técnicas altamente
desenvolvidas e comprovadamente eficazes, testadas e aprimoradas, dia após dia.
São mestres da comunicação, doutores em dialética. São metódicos e
profissionais. Nada fica ao azar. Àquilo que pode parecer absurdo para algumas
mentes mais esclarecidas, passa a ser assimilado como verdade por milhares de outras
mentes, assimilado e compartilhado, acreditado e defendido, a ponto de provocar
mudanças comportamentais e atitudes desafiadoras, conflitivas e agressivas, que
resultam em negação da realidade, segregação e conflitos entre pessoas,
famílias, grupos e comunidades.
A nova pedra filosofal – sua estrutura
1)
O moderno alquimista da informação começa com a escolha de um
assunto simples, único, concreto e relevante, de elevada importância para a
comunidade. Este assunto passa a ser tema focal, objeto concentrador do
pensamento. É definido como o inimigo a ser derrotado.
2)
A seguir procura demonstrar como e de que forma este assunto,
impacta na comunidade. Compara um “antes dele” perfeito e harmônico com um
presente e futuro sombrio e contaminado por esse assunto.
3)
Realiza a transposição de diversos outros males e prejuízos para
o assunto escolhido. O tal do assunto passa a ser responsável por todas as
mazelas e dores presentes.
4)
Incrementa sua importância. Exagera seu verdadeiro potencial
promovendo sua transformação em fonte de diversos problemas e desgraças.
5)
Transforma seus efeitos em coisas torpes, de índole maléfica.
O assunto passa a ser origem do mal.
6)
São divulgadas “noticias” e declarações de “fontes confiáveis”
e de indivíduos “reconhecidos” confirmando o assunto e seus maléficos efeitos.
7)
A comunicação se transforma em um verdadeiro bombardeio de novas
notícias e “novidades” sobre o mesmo assunto. Replica-se a informação de forma
exaustiva. Multiplica-se por mil vezes mil.
8)
Promovem-se novas interpretações de especialistas, de “experts”,
sempre direcionadas a ratificar o dano provocado pelo assunto escolhido.
9)
Tudo àquilo que não estiver de acordo com a força maléfica
desse assunto, é escondido, ignorado, dissimulado, desmentido.
10)Procura-se, no passado situações onde o assunto
possa ser aplicado, e utilizam-se estas situações para potencializa-lo.
11)Procura-se formar comunidades com pensamento
convergente, com interesses comuns, para que esse assunto seja difundido,
introjetado em outras comunidades, de forma exaustiva, até ser aceito como nova
verdade.
O
objetivo da transmutação, finalmente é alcançado. O moderno alquimista consegue
transformar chumbo e estanho em reluzente ouro, admirado e cobiçado por todos
àqueles que tiveram seu pensamento modificado pela magia da comunicação
alquímica.
A
mentira se sobrepõe a realidade, ao verosímil. Transmuta-se em nova verdade, a
qual é replicada, triplicada, multiplicada. Invade e parasita nossas mentes até
que, sugando a seiva que alimenta a razão e a evidência, termina por fincar suas
raízes muito profundamente, no mais íntimo de nossos corações e mentes.
Passamos a ser escravos da mentira. Somos parasitados por ela.
Para
nossa esperança, existe um antidoto para este poderoso e corrosivo veneno. O
respeito à verdade, o desprezo pela ignomínia. A rejeição sumária das práticas
alquímicas transformadoras da verdade. Isso depende somente de uma atitude proativa
de nossa parte: procurar e respeitar permanentemente a verdade, rejeitando
qualquer proposta utópica de transformações alquímicas da realidade.
Você pode concordar ou não, porém essa
é minha opinião, aqui, somente entre nós.