Em fevereiro de 1999, escrevi um artigo para a revista “O CENECISTA”[1] a convite do então Superintendente da CNEC – CE, Prof. José Lúcio Ferreira de Melo. Transcrevo o mesmo hoje, 08 de março de 2022, ou seja, depois de transcorridos 23 anos, daquela data. A sua releitura me proporciona a oportunidade de refletir sobre o tema em epígrafe: “Paternidade responsável e consumismo”. Vamos, sem mais delongas ao referido texto:
“O Brasil enfrenta mais uma das, até
agora, infinitas crises econômicas e de credibilidade das suas instituições e
lideranças. A estrutura financeira do sistema encontra-se abalada e sua
instabilidade reflete-se no seio da população, castigando, preferencialmente,
camadas cujas rendas são menores. A situação está tomando uma tal gravidade que
até as chamadas classes favorecidas sentem, na própria carne, a dor de perder
sua liberdade de consumir.
Esse descalabro atinge, e não poderia
ser de forma diferente, os setores produtivos, comercial e de serviços. Dentro
destes últimos anos, não podemos deixar de destacar os estabelecimentos
educacionais. As escolas estão sendo penalizadas de forma criminosa,
retirando-se delas sua capacidade operacional, através do aumento contínuo de
suas despesas sem poderem repassar esses custos para o lado das receitas.
Hoje, está sendo colocado em xeque o
futuro do Brasil, comprometendo a qualidade de ensino das crianças que serão
nossos líderes amanhã.
Essas crianças são nossos filhos, não
os filhos dos outros. A responsabilidade pela formação dos futuros homens e
mulheres é nossa, portanto devemos refletir sobre qual deve ser nossa postura
como pais, frente a essa contingência.
A escola de nossos filhos deve ser a
melhor e mais completa possível. Deve ser aquela que tenha uma proposta
pedagógica dirigida à formação do ser humano completo. Não simplesmente
dirigida a preparar uma dúzia de alunos para serem campeões do vestibular.
Nossa cobrança deve ser neste sentido, pois a oportunidade de formar nossas
crianças somente tem caminho de ida. E quando passa, jamais se repetirá.
Nós temos essa escola bem a nossa
frente. Nossos filhos são seus alunos. E somos os responsáveis pela sua
continuidade. É nossa obrigação moral lutar pela sua sobrevivência. E para isso
devemos assumir o compromisso pela sua manutenção como modelo de excelência no
ensino. Qualquer sacrifício vale a pena, pois é o futuro de nossos filhos que
está em jogo.
Devemos refletir profundamente sobre
este assunto, principalmente na hora crítica em que comprometemos nossa renda
em gastos que podem ser evitados. A escola é um investimento com o melhor
retorno possível. O consumo é um veneno que nos mata lentamente tirando de nós
toda a capacidade de honrar a paternidade responsável.
Cada vez que utilizamos os cartões de
créditos, cheques pré-datados, os crediários ou, até mesmo, o dinheiro vivo,
devemos nos fazer estas perguntas: Já fiz o investimento mensal nos meus
filhos? Meu compromisso com sua formação foi cumprido?
Se a resposta for “ainda não”, devemos
parar e pensar. Os impulsos de consumo devem ser refreados e nosso talão de
cheques deve ser guardado. Devemos dar um basta à falsa ilusão de poder que a
publicidade lapida em nossas mentes. Força e poder são decorrentes do orgulho
que devemos sentir como pais responsáveis.
A escola é a forja onde se modela o
caráter de nossos filhos. Para que o resultado seja o desejado, devemos
mantê-la acessa.
E somos nós que alimentamos sua fornalha
com carvão.
Claramente,
o mundo dá múltiplas cambalhotas, mudanças se sucedem em ritmo vertiginoso, não
mais há “vestibular” e “cheque pré-datado”, mas há ENEM, PIX, TED, DOC e uma
torrente de meios de estudo e pagamentos novos e ingeniosos. Muitos dos filhos
de 23 anos atrás, são hoje pais corujas que levam diariamente seus pequenos às
escolas modernas. Somente há uma coisa que permanece imutável no tempo: A
paternidade responsável e o consumismo. Um consumismo exacerbado pelo modo
atual de vida, pela facilidade de pagamento, pelas ofertas imperdíveis, pelos
milagrosos produtos importados ou nacionais que nos oferecem facilidades e
benesses incríveis. Tudo ao alcance da mão, no celular, no pagamento
instantâneo, na entrega à domicílio. É necessário sobrepor a paternidade
responsável ao consumismo, e lapidar em nossos filhos essa consciência, para
que no futuro, sejam eles os novos pais responsáveis que possibilitem, com seus
atos, a permanência do ser humano consciente de sua missão irrenunciável na vida.
Vinte e três
anos se passaram desde essa publicação. Meus filhos, alunos das séries
iniciais, na época são hoje profissionais de sucesso dos quais muito me
orgulho. Tenho certeza de que muitos erros foram cometidos nesse tempo. Errar
faz parte da vida. Porém uma coisa que jamais pode ser negligenciada é a
paternidade responsável. O preço a pagar pela omissão, certamente será caro
demais.
Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião,
aqui, somente entre nós.
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