sexta-feira, 30 de abril de 2021

Onde está o lobo mau (Parte II): Isso nunca acontecerá com nossos filhos!

 A fábula “Chapeuzinho Vermelho”, é certamente, por todos nós conhecida, não obstante isso, nem sempre valorizada na sua justa medida, nem reconhecidos os seus importantes ensinamentos. Encerra, nas suas palavras, uma mensagem por demais esclarecedora, a qual é dirigida não só às crianças que adoram ouvi-la, mas particularmente aos pais, que com frequência preocupante permitem que seus filhos se adentrem nas “florestas da vida”, confiantes em que nada virá a lhes acontecer.

Estas postagens (Parte I e II) não tem, nem nunca tiveram, a pretensão de serem um tratado sobre abuso de crianças ou pedofilia, nem poderiam sê-lo, considerando a extrema complexidade e amplitude do tema. Não obstante, foram escritas com uma adequada fundamentação teórica, embasamento que lhe confere a necessária garantia de verossimilitude em suas diversas e múltiplas afirmações.

Procuramos sempre levar, de forma objetiva até o leitor, uma visão esclarecedora e plausível de alguns dos perigos aos quais as crianças estão expostas cotidianamente nos diversos ambientes que frequentam, com ou sem o aval paterno. Estes ambientes, os mais diversos possíveis, possuem quase sempre brechas, fendas ou canais inesperados que permitem a entrada sub-reptícia de elementos mal intencionados os quais, agindo de forma similar aos predadores implacáveis da floresta, ficarão à espreita de suas presas, em silêncio, o tempo que for necessário, até que, de forma inesperada, estas cairão nas suas garras, sem perdão, inexoravelmente.

As vítimas potenciais, são pequenos e inocentes seres desprotegidos, que nem sempre possuem uma verdadeira noção do perigo que estão correndo. Curiosos, procuram continuamente por respostas a cada uma de suas intermináveis interrogações, respostas que às vezes, ao serem encontradas, geram novas dúvidas, em ciclos que se repetem ad infinitum.

Embora paralisados pelo medo, às vezes superam as barreiras, sedentos de serem partícipes de novas e excitantes experiências. Ser criança é aceitar desafios sem medir consequências. Angustiados, certamente, ao ter que enfrentar uma situação totalmente inesperada, porém permanentemente premidos pela necessidade de aprender e apreender, de tomar para si tudo o que se apresenta como novo, desconhecido, nem sempre desejado, mas pleno de mistério, que lhes é oferecido de mãos abertas, gentilmente, sem censura, sem reproches.

São deixados pelos pais, familiares ou responsáveis em aparente segurança, dentro dos mais elevados níveis de confiança possíveis, em espaços pretensamente blindados ao mal, com aquelas pessoas que, se espera, lhes fornecerão educação e conhecimento, cuidarão de sua saúde e higiene, os alimentarão e resguardarão na ausência dos seus maiores, fato por demais frequente nestes dias atribulados e cheios de compromissos sociais, laborais e profissionais.

Ficam em ambientes considerados fortemente protegidos, com grades, câmeras de vídeo, cercas elétricas, guardas munidos de médios de comunicação de última geração, convenientemente isolados por portas, travas e vidros blindados, pretensamente a salvo dos potenciais perigos que estão presentes no cotidiano de suas vidas, daqueles bandidos transvestidos de mocinhos, das drogas e maldades, das armas, enfim, dessa violência urbana cotidiana que inunda e sufoca cada vez mais nossa sociedade.

Condomínios, escolas, igrejas, clubes, acampamentos, casas de amigos tradicionais, de parentes muito próximos, clínicas de renome, consultórios, academias de arte ou dança, creches, quiçá o próprio quarto, a sala ou o banheiro do lar, naquele inviolável espaço familiar.

Estes são tão somente alguns dos lugares nos quais se deposita essa confiança, deixando ou entregando as crianças, com alegria, sem medo, na certeza de que, logo mais estarão retornando aos nossos braços, sãs e salvas.

Mas, nem sempre isso é uma verdade insofismável. Da mesma forma em que, dentro desses ambientes seguros, as rosas podem nos mostrar toda sua beleza e esplendor, a semente do mal pode ter sido plantada e estar germinando em silêncio. O predador pode encontra-se já oculto na penumbra, em silêncio, acaçapado, afiando suas garras, pronto para dar o bote.

Qual lobo transvestido de avó pode encantar com sua candura, tal qual onírico príncipe que seduz, com o brilho dos seus olhos e a permanente alegria do seu sorriso. A pergunta surge naturalmente: Onde está o lobo mau...?

As armadilhas podem estar prontas, aguardando a oportunidade, montadas na úmbria solidão dos corredores, nos quartos de estudo e nas salas de aula, nos vestiários, parques, bibliotecas e salas de jogos, nos banheiros e dormitórios. Na solidão dos auditórios fechados, nos cinemas e nos templos consagrados. Nas garagens, estacionamentos e guaritas. Nos consultórios, onde se procura a seriedade e integridade do profissional de saúde. Na sala de música e canto, no atelier do mestre pintor...

Sempre que houver uma oportunidade para o mal ser praticado, haverá uma ocasião para praticá-lo e alguém pronto e disposto a tirar proveito disso. Não existe impossível para quem deseja satisfazer seus desejos perversos. Não há barreiras, grades, portas ou muros, luzes ou sombras capazes de impedir a ação de um ser mal-intencionado. O tempo e o silêncio estarão sempre de seu lado.

Muitos de nossos leitores, certamente comentarão para si: tudo isto é balela, papo furado, exagero doentio. Não existe em hipótese nenhuma, este mundo horrível dentro do meu universo pessoal. Meus amigos e colegas são da mais alta confiança. O colégio dos meus filhos é tradicionalmente o melhor e mais qualificado estabelecimento educacional da cidade, seus professores e a diretoria, são irrepreensíveis. Nunca houve um caso sequer de moléstia a uma criança.

Os templos, de cujas cerimônias religiosas participamos nós e todos nossos amigos e familiares, estão a cargo de pessoas maravilhosas, amorosas, cheias de bondade e que cuidam abnegadamente dos pobres, dos anciões e dos menores em situação de risco, que tanto existem nas ruas. Basta participar dos ritos e encontros, conversar com as pessoas, para perceber que esse amor e essa bondade estão presentes em cada ato.

Os consultórios médicos nos quais nossos familiares são tratados pertencem aos mais renomados profissionais de saúde, ou se encontram nas melhores clínicas e hospitais da cidade.

Ninguém, na nossa primorosa família, jamais seria capaz de cometer o menor ato reprochável com qualquer criança que seja, e muito menos com algum dos nossos filhos. Eles são adorados e cobertos de carinho por tios, avós e primos.

Nossos amigos compartilham com suas famílias os melhores e mais felizes momentos de suas vidas conosco, e são todos da mais elevada qualidade humana. É absurdo pensar uma coisa assim. Isso nunca acontecerá com nossos filhos!

Outros, no entanto, ficarão apreensivos e desconfiados. Alguns quiçá, podem até lembrar-se de algum caso acontecido faz certo tempo com vizinhos ou conhecidos, enfim, com os outros.

Finalmente, haverá aqueles, que lendo alguns parágrafos deste texto, permanecerão em silêncio, sentindo um aperto na garganta ao lembrar-se da dor sentida, no corpo e na alma. Estes podem até não mais serem capazes de chorar, pois suas lágrimas estarão represadas pelo terror, nos mais recônditos e obscuros espaços selados da memória.

Não é feito pelo autor, nenhum juízo de valor sobre qualquer opinião, seja ela favorável ou contrária ao conteúdo exposto aqui. Cada pessoa pode e deve ter livre arbítrio para pensar e agir como sua consciência assim o determinar.

Esperamos, no entanto, que ninguém feche os olhos, tampe os ouvidos nem silencie a voz, sem se deter um instante para meditar, e se fazer, em silêncio, uma única pergunta: será isso possível de acontecer? A possível vítima pode estar, neste momento olhando na sua direção, quiçá ao seu lado, sem poder expressar seus medos e angústias, sua dor, seu sofrimento.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

 

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