domingo, 25 de abril de 2021

Somente vive quem permanece vivo

 

O medo do desconhecido bloqueia nosso pensamento, nos paralisa, impedindo-nos de fazer escolhas que, frequentemente, podem representar a diferença entre o sucesso e o fracasso, isto é, simbolicamente falando, entre a vida e a morte.[1]

  Em nosso artigo, denominado “Via de porre e via de levare”  consideramos que “Todos nós, como seres humanos, desde a concepção até o último alento, passamos por um processo contínuo de adequação e mudanças, sejam elas orgânicas, psíquicas ou sociais. Vivemos numa permanente construção e aperfeiçoamento do ser, com um objetivo primordial: sobreviver o quanto e o melhor que for possível.”

Quando crianças, sonhamos com a adolescência. As alterações orgânicas mudam nossas atitudes e desejos. Passamos a renegar o passado: “Não sou mais criança...” é frase repetida mil vezes. A vontade de correr supera a força de nossas pernas. A curiosidade se transforma em desafios que nem sempre estamos dispostos a enfrentar. O desejo nos inflama. As múltiplas quedas, aparam as arestas. Nossos corpos e nossas mentes, são dolorosamente ajustados até se transformarem em poderosos e jovens adultos. Avançamos a cada dia, nos apaixonamos, casamos, temos filhos e nossos filhos, retomam os sonhos das crianças. A vida, não tem retornos. Somente é possível avançar.

De forma análoga a uma pintura de alta complexidade artística, o homem desenvolve sua estrutura bio-psico-social por via de porre através do agregado de sucessivas camadas de conhecimentos, experiências e relacionamentos que, a cada instante, são incorporadas como resultante do processo de aprendizado contínuo ao qual estamos permanentemente submetidos. Tintas e cores aplicados ao longo da vida por múltiplos e diferentes artistas: pais, mestres, parentes, amigos, esposos, filhos, netos, enfim, todos e cada um daqueles que em algum momento interagem ou se cruzam em nosso caminho. Essa obra fica, a cada dia, mais perto do seu acabamento final, que coincide com o momento de nossa despedida[2].

A vida é uma construção permanente, porém, para continuar vivos se faz necessário remover obstáculos que bloqueiam a passagem das estruturas que a suportam. É necessário arrancar, por via de levare, na força do martelo e do cinzel, aquelas camadas que nos sufocam e nos aprisionam dentro de um bloco rígido. Não podemos permitir que o medo nos paralise, que o amargo nos envenene ou que o silêncio nos afaste da alegria de viver. Por trás dessas camadas grosseiras, dos cabelos grisalhos ou da pele sem viso, poderemos descobrir a figura suave, brilhante e formosa que permanece escondida no bloco sólido de nossa alma. O ser humano se modela a cada instante, seja por via de porre ou por via de levare. Na suavidade do pincel que dá os tons multicoloridos a nosso ser, ou na força do cinzel e do martelo, arrancando de nós a rigidez da pedra que sufoca nossos sentimentos e nossa alma.

Sigmund Freud disse que o inconsciente é algo que fica escondido em cada um, mas que se manifesta sem sabermos nos comportamentos. Ao ter outras prioridades que não seja você, a mensagem que fica registrada é que você não é tão importante, que não tem tanto valor e que os outros são mais relevantes e dignos da sua atenção e você vira uma personagem secundária na própria vida.
E isso reforça a mensagem de não ser capaz nem do básico por si mesma, cultiva o não merecimento, a insegurança, o autoabandono que provoca um vazio interior, que gera uma ferida na qual nada é capaz de suprir, tendo isso repercutido em todas as áreas da vida.
A pessoa sofre, se envolve em relacionamentos ruins, adquire hábitos compulsivos como comprar muitas roupas sem necessidade por exemplo, em busca de refúgio.[3]

A todo instante e independentemente de nosso tempo de permanência, vulgarmente conhecido como “idade”, somos fortemente influenciados pelas fantasias, sem percebermos que por elas estamos sendo controlados. Inconformados pelos fios grisalhos de nossos cabelos, os pintamos de forma nem sempre harmoniosa, seguindo a “tendência atual e retomando o viso da juventude”, sem aceitar que os fios permanecem brancos na sua essência. Utilizamos cremes milagrosas a base de produtos instantaneamente rejuvenescedores para eliminar rugas na pele, sem perceber que que a pele permanece a mesma.  Adquirimos roupas multicoloridas, modernas e juvenis, fazemos cirurgias plásticas, implantamos bolsas de silicone, fazemos lipos e modelagens procurando um rejuvenescimento impossível. [...]Não aceitamos o passar do tempo. Não reconhecemos a vida como ela é.

Não nos aceitamos como realmente somos. Não sentimos orgulho de “ser”. Somos impelidos pelas nossas fantasias a “parecer”, a sermos eternamente jovens, bonitos, fortes e poderosos, superiores. [...] sou totalmente a favor de cuidar de nossa aparência, de nosso modo de vida, da alegria de viver. De ficar “bonitos” para nós e para àqueles que amamos. [...]As marcas do tempo, devem servir como sinais de maturidade, experiencia e sabedoria. Somos o que somos, jamais o que parecemos.

As fantasias devem, sim, ocupar um espaço em nossas vidas, pois alimentam os sonhos e estimulam nossas caminhadas. Podem compartilhar nosso mundo. São benvindas.

O que não podemos é viver no mundo da fantasia. Jamais devem nos dominar e controlar nossos pensamentos, sob o risco de sermos transformados em marionetes, sem vida própria. Devemos aceitar a beleza real, a que nos identifica, àquela que possuímos em nossos corações. Não devemos vestir uma roupa para parecer jovens, mas devemos vesti-la para mostrar que permanecemos jovens, alegres, e orgulhosos de sermos bonitos. É necessário viver a vida, da forma que ela realmente é. Não é a idade que nos torna amargos. São nossas escolhas erradas. Não podemos aceitar o papel de coadjuvantes de nossa própria vida. É necessário sermos permanentes protagonistas. Nossas atitudes devem ser proativas. Nossa prioridade deve estar centrada em nossa felicidade. Devemos viver, para continuar vivos.

 

Você pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.

 



[1] https://spisandelli.blogspot.com/2020/11/medo-do-desconhecido.html

[2] http://spisandelli.blogspot.com/2020/11/via-di-porre-e-via-di-levare.html

[3] Ana Carolina Rodrigues. https://www.instagram.com/p/CNvqskdBFsT/

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