O medo do desconhecido bloqueia nosso pensamento, nos paralisa,
impedindo-nos de fazer escolhas que, frequentemente, podem representar a
diferença entre o sucesso e o fracasso, isto é, simbolicamente falando, entre a
vida e a morte.[1]
Quando crianças, sonhamos com a adolescência. As alterações orgânicas mudam
nossas atitudes e desejos. Passamos a renegar o passado: “Não sou mais
criança...” é frase repetida mil vezes. A vontade de correr supera a força
de nossas pernas. A curiosidade se transforma em desafios que nem sempre
estamos dispostos a enfrentar. O desejo nos inflama. As múltiplas quedas,
aparam as arestas. Nossos corpos e nossas mentes, são dolorosamente ajustados
até se transformarem em poderosos e jovens adultos. Avançamos a cada dia, nos
apaixonamos, casamos, temos filhos e nossos filhos, retomam os sonhos das
crianças. A vida, não tem retornos. Somente é possível avançar.
De
forma análoga a uma pintura de alta complexidade artística, o homem desenvolve
sua estrutura bio-psico-social por via de porre através do agregado de
sucessivas camadas de conhecimentos, experiências e relacionamentos que, a cada
instante, são incorporadas como resultante do processo de aprendizado contínuo
ao qual estamos permanentemente submetidos. Tintas e cores aplicados ao longo
da vida por múltiplos e diferentes artistas: pais, mestres, parentes, amigos,
esposos, filhos, netos, enfim, todos e cada um daqueles que em algum momento interagem
ou se cruzam em nosso caminho. Essa obra fica, a cada dia, mais perto do seu
acabamento final, que coincide com o momento de nossa despedida[2].
A vida é uma construção permanente, porém, para continuar vivos se faz
necessário remover obstáculos que bloqueiam a passagem das estruturas que a
suportam. É necessário arrancar, por via de levare, na força do martelo e do cinzel,
aquelas camadas que nos sufocam e nos aprisionam dentro de um bloco rígido. Não
podemos permitir que o medo nos paralise, que o amargo nos envenene ou que o
silêncio nos afaste da alegria de viver. Por trás dessas camadas grosseiras, dos
cabelos grisalhos ou da pele sem viso, poderemos descobrir a figura suave,
brilhante e formosa que permanece escondida no bloco sólido de nossa alma. O
ser humano se modela a cada instante, seja por via de porre ou por via de
levare. Na suavidade do pincel que dá os tons multicoloridos a nosso ser, ou na
força do cinzel e do martelo, arrancando de nós a rigidez da pedra que sufoca
nossos sentimentos e nossa alma.
Sigmund
Freud disse que o inconsciente é algo que fica escondido em cada um, mas que se
manifesta sem sabermos nos comportamentos. Ao ter outras prioridades que não
seja você, a mensagem que fica registrada é que você não é tão importante, que
não tem tanto valor e que os outros são mais relevantes e dignos da sua atenção
e você vira uma personagem secundária na própria vida.
E isso reforça a mensagem de não ser capaz nem do básico por si mesma, cultiva
o não merecimento, a insegurança, o autoabandono que provoca um vazio interior,
que gera uma ferida na qual nada é capaz de suprir, tendo isso repercutido em
todas as áreas da vida.
A pessoa sofre, se envolve em relacionamentos ruins, adquire hábitos
compulsivos como comprar muitas roupas sem necessidade por exemplo, em busca de
refúgio.[3]
A
todo instante e independentemente de nosso tempo de permanência, vulgarmente
conhecido como “idade”, somos fortemente influenciados pelas fantasias, sem
percebermos que por elas estamos sendo controlados. Inconformados pelos fios grisalhos
de nossos cabelos, os pintamos de forma nem sempre harmoniosa, seguindo a “tendência
atual e retomando o viso da juventude”, sem aceitar que os fios permanecem brancos
na sua essência. Utilizamos cremes milagrosas a base de produtos instantaneamente
rejuvenescedores para eliminar rugas na pele, sem perceber que que a pele
permanece a mesma. Adquirimos roupas multicoloridas,
modernas e juvenis, fazemos cirurgias plásticas, implantamos bolsas de
silicone, fazemos lipos e modelagens procurando um rejuvenescimento impossível.
[...]Não aceitamos o passar do tempo. Não reconhecemos a vida como ela é.
Não
nos aceitamos como realmente somos. Não sentimos orgulho de “ser”. Somos
impelidos pelas nossas fantasias a “parecer”, a sermos eternamente jovens, bonitos,
fortes e poderosos, superiores. [...] sou totalmente a favor de cuidar de nossa
aparência, de nosso modo de vida, da alegria de viver. De ficar “bonitos” para
nós e para àqueles que amamos. [...]As marcas do tempo, devem servir como sinais
de maturidade, experiencia e sabedoria. Somos o que somos, jamais o que parecemos.
As
fantasias devem, sim, ocupar um espaço em nossas vidas, pois alimentam os
sonhos e estimulam nossas caminhadas. Podem compartilhar nosso mundo. São
benvindas.
O
que não podemos é viver no mundo da fantasia. Jamais devem nos dominar e
controlar nossos pensamentos, sob o risco de sermos transformados em
marionetes, sem vida própria. Devemos aceitar a beleza real, a que nos
identifica, àquela que possuímos em nossos corações. Não devemos vestir uma roupa
para parecer jovens, mas devemos vesti-la para mostrar que permanecemos jovens,
alegres, e orgulhosos de sermos bonitos. É necessário viver a vida, da forma
que ela realmente é. Não é a idade que nos torna amargos. São nossas escolhas
erradas. Não podemos aceitar o papel de coadjuvantes de nossa própria vida. É
necessário sermos permanentes protagonistas. Nossas atitudes devem ser proativas.
Nossa prioridade deve estar centrada em nossa felicidade. Devemos viver, para
continuar vivos.
Você
pode concordar ou não, porém essa é minha opinião, aqui, somente entre nós.
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